Terezinha Azerêdo Rios
COMPREENDER E ENSINAR NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
- É a articulação entre Filosofia e Didática - saberes que contribuem para a
construção contínua da competência do professor. Filosofia - é
a reflexão e a compreensão da atuação dos seres humanos no mundo. Didática
- é a preocupação com o ensino, a socialização, criação e recriação.
Tanto a Filosofia como a Didática são saberes
humanos historicamente situados e é preciso verificar as caraterísticas do
contexto, nos quais eles desempenham suas funções e quais as alternativas para
que estes sujeitos possam "fazer acontecer". A responsabilidade pelo
ensino está dispersa, mas há uma grande preocupação com ele e pode-se constatar
que as demandas colocadas à Filosofia ainda são muito grandes. Assim sendo,
encontra-se no campo da educação a perspectiva de uma ressignificação da
ciência do ensinar.
Nosso mundo, nosso tempo - precariedade e
urgências – É necessário refletir sobre os possíveis caminhos através
da Filosofia e da Didática. Na passagem do novo milênio, do novo século, o que
se afirma é que se enfrenta uma crise de significados da vida humana, das
relações entre as pessoas, instituições e comunidades. A crise aponta para duas
perspectivas - perigo e oportunidades. Quando consideramos o perigo, estamos
envolvidos por uma atitude negativa, ignorando as alternativas de superação, e
quando considera-se a perspectiva de oportunidade, estamos à mercê da crítica,
da reflexão e a da reorientação da prática.
Este mundo, definido como pós- moderno, tem a
referência de uma modernidade antecedente. A modernidade caracterizou-se como
um período em que a razão é como um elemento explicador e transformador do
mundo. Ser moderno implicava em lançar-se-á aventura da razão instrumental,
tecnológica.
Do ponto de vista político-econômico instalou-se
o modelo liberal, a defesa do livre mercado, o incentivo à especialização, a
discussão sobre os ideais de liberdade e igualdade.
Globalização - fenômeno da expansão de
inter-relações, principalmente de natureza econômica, em uma escala mundial,
entre países e sociedades de todo o mundo, reflete o progresso tecnológico e o
crescimento da pobreza em todas as regiões do mundo. É a convivência com a
exclusão social. É um mundo desencantado que despreza alguns valores
fundamentais na construção do mundo e do ser humano. Neste mundo complexo,
também se tornam mais complexas as tarefas dos educadores. E neste contexto,
qual será a atitude a se tomar no campo do trabalho docente, na perspectiva da
educação e da filosofia?
A autora ressalta algumas demandas que se
configuram como desafios:
um mundo
fragmentado exige para a superação da fragmentação, uma visão de totalidade, um
olhar abrangente e, no que diz respeito ao ensino, a articulação estreita dos
saberes e capacidades;
um mundo
globalizado requer, para evitar a massificação e a homogeneidade redutora, o
esforço de distinguir, para unir a percepção clara de diferenças e
desigualdades e, no que diz respeito ao ensino, o reconhecimento de que é
necessário um trabalho interdisciplinar que só ganhará sentido se partir de uma
efetiva disciplinaridade;
num mundo
em que se defronta a afirmação de uma razão instrumental e a de um
irracionalismo é preciso encontrar o equilíbrio, fazendo a recuperação do
significado da razão articulada ao sentimento e, no que diz respeito ao
ensino,à reapropriação do afeto no espaço pedagógico.
Compreender o mundo - Através da
Filosofia faz-se uma reflexão e objetiva-se um saber inteiro com clareza,
abrangência e profundidade, orienta-se num esforço de compreensão que é o
desvelamento da significação, o valor dos objetos sobre os quais se volta.
Conceito de compreensão - uma referência a uma
dimensão intelectual e a uma dimensão afetiva. Faz-se necessária também uma
atitude de admiração diante do conhecido. Aristóteles afirmava que a admiração
é o primeiro estímulo que o ser humano tem para filosofar. Na prática, o que
fascina e intriga? A resposta está na vivência das situações-limite, ou
situações problemáticas.
Quando se faz uma reflexão sobre o próprio
trabalho, questiona-se a sua validade, o seu significado. As respostas são
encontradas em dois espaços: na prática - na experiência cotidiana; na reflexão
crítica - sobre os problemas que esta prática faz surgir como desafios.
Ensinar o mundo -
Etimologicamente; didática em grego didaktika, derivado do verbo didasko -
significado "relativo ao ensino". Para Coménio - "a arte de
ensinar". A definição de Didática engloba duas perspectivas: uma ciência
que tem um objeto próprio, como um saber, um ramo do conhecimento, e uma
disciplina que compõe a grade curricular dos cursos de formação de professores.
O ensino como objeto da Didática, é considerado
como uma prática social que se dá no interior de um processo de educação e que
ocorre informalmente, seja espontânea, ou formalmente, de maneira sistemática,
intencional e organizada. De maneira organizada, se desenvolve na instituição
escolar realizado a partir da definição de objetivos,
conteúdos a serem explorados no processo educacional.
conteúdos a serem explorados no processo educacional.
A relação professor-aluno, por intermédio do
gesto de ensinar, propicia um exercício de meditação, é o encontro com a
realidade, considerando o saber já existente, e procura articular a novos
saberes. Este processo possibilita aos alunos a formação e o desenvolvimento de
capacidades, habilidades cognitivas e operativas. Logo, o ensino através da
ação específica do docente caracteriza-se como uma ação que se articula à
aprendizagem. Diante desta apresentação, a autora faz um alerta reflexivo na
seguinte frase: "O professor afirma que ensinou e que infelizmente os
alunos não aprenderam".
A Didática é um elemento fundamental para o
desenvolvimento do trabalho docente. "Um bom professor é reconhecido pela
sua didática". Esse conceito é identificado como um"saber
fazer". A Didática deve ser entendida em seu caráter prático de
contribuição ao desenvolvimento do trabalho de ensino, realizado no dia- a- dia
da escola. (Oliveira, M.R.S., 1993:133-134).
Didática e Filosofia da Educação: uma
interlocução -· Na música de Gilberto Gil "Hoje o mundo é
muito grande, porque a Terra é pequena" e no Vasto mundo de Drumond de
Andrade. O mundo cuja extensão se torna maior em função da intervenção contínua
dos seres humanos, construindo e modificando a cultura e a história. Como ser
professor neste mundo? O que é ensinar? Como e de que modo os alunos aprendem?
A fragmentação do conhecimento, da comunicação e
das relações comprometem a prática educativa. Portanto, é preciso um novo olhar
e uma articulação estreita de saberes e capacidades para que a Filosofia da
Educação abranja o processo educativo em todos os aspectos. A Didática
necessita dialogar com a diversidade dos saberes da docência, enfrentar os
desafios e buscar alternativas para pensar e repensar o ensino.
Este contexto implica a revisão de conteúdos, de
métodos, do processo de avaliação, novas propostas e novas organizações
curriculares.
Ensinar - Muitas questões se
apropriam da prática docente, com o objetivo de estabelecer vínculos entre o
conhecimento e a formação cultural, o desenvolvimento de hábitos, atitudes e
valores. A autora ressalta com base em Selma G. Pimenta em "O estágio na
formação de professores"- 1994, que são necessárias novas questões para um
novo cenário educacional e para o novo milênio.
O fenômeno da globalização é uma percepção clara
das diferenças e especificidades dos saberes, e das práticas para realizar um
trabalho coletivo e interdisciplinar.
Interdisciplina - ressalta
"mistura de trabalhos" que é a maneira equivocada em que ocorre a
interdisciplinaridade, em torno de um tema. Na verdade, a
interdisciplinaridadeé algo mais complexo, que só ocorre quando trata
verdadeiramente de um diálogo ou de uma parceria, que é constituída exatamente
na diferença, na especificidade da ação de grupos ou indivíduos que querem
alcançar objetivos comuns. É preciso ter muita clareza do tipo de contribuição
que cada grupo pode trazer, na especificidade desta contribuição, que é a
disciplinaridade.
COMPETÊNCIA E QUALIDADE NA DOCÊNCIA - É
uma reflexão sobre a articulação dos conceitos de competência e de qualidade no
espaço da profissão docente. Estes termos são empregados com múltiplas
significações, gerando equívocos e contradições.
A idéia de ensino competente é
um ensino de boa qualidade. É fazer a conexão estreita entre as dimensões:
técnica, política, ética e estética da atividade docente. Trata- se de refletir
sobre os saberes que se encontram em relação à formação e à prática dos
professores.
O conceito de qualidade é abrangente, é
multidimensional. Na análise crítica da qualidade, devem ser considerados os
aspectos que possam articular a ordem técnica e pedagógica aos de caráter
político - ideológico. A reflexão sobre os conceitos de competência e qualidade
têm o propósito de ir em busca de uma significação que se alterou exatamente em
virtude de certas imposições ideológicas.
Em busca da significação dos conceitos: o
recurso à lógica - A lógica formal permite analisar os conceitos em
sua própria constituição. Para Aristóteles, a lógica foi chamada de organon,
necessária em todos os campos do conhecimento. A compreensão dos termos tem
sofrido modificações em virtude das características dos contextos em que são
utilizados. Assim, o termo Competência, freqüentemente é usado para designar
múltiplos conceitos como: capacidade, saber, habilidade, conjunto de
habilidades, especificidade. Portanto, no que se refere à Qualidade observa-se:
programa de computadores, qualidade de um atleta, o controle de qualidade de
produtos industriais. O que realmente é importante não são as palavras, os
termos, e sim os objetos da realidade que eles designam.
No que diz respeito à educação de
qualidade refere-se à história da educação brasileira. Recentemente,
menciona-se com freqüência a necessidade de competência no trabalho do
educador.
Qualidade ou qualidades? -· Há
uma multiplicidade de significados: educação de qualidade, está se referindo a
uma série de atributos que teria essa educação, ou seja, um conjunto de
atributos que caracteriza a boa educação. Usando a palavra Qualidade com a
maiúscula, é na verdade um conjunto de "qualidades".Conforme a
citação da autora, para Aristóteles, "a qualidade é uma das categorias que
se encontram em todos os seres e indicam o que eles são ou como estão. As
categorias são: substância, quantidade, qualidade, relação, tempo, lugar, ação,
paixão, posição e estado". São breves referências no que diz respeito à
noção de qualidade, e pode-se trabalhar no campo da educação.
A educação é um processo de socialização da
cultura, no qual se constróem, se mantêm e se transformam os conhecimentos e os
valores. A esta definição chama-se categoria da "substância". Se este
processo de socialização se faz com a imposição de conhecimentos e valores,
ignorando as características dos educandos, diremos queé uma má educação. Toda
educação tem qualidades. A boa educação pela qual desejamos e lutamos, é uma
educação cujas qualidades carregam um valor positivo.
Competência ou competências? - Como
se abriga qualidade no conceito de competência? O termo é recente e passa a ser
uma referência constante. Perrenoud reconhece que "a noção de competência
tem múltiplos sentidos" e segundo sua afirmação:
(...) uma competência como uma capacidade de
agir eficazmente em um tipo definido de situação, capacidade que se apoia em
conhecimentos, mas não se reduz a eles. Para enfrentar da melhor maneira
possível uma situação, devemos em geral colocar em jogo e em sinergia vários
recursos cognitivos complementares, entre os quais os conhecimentos.
As competências utilizam, integram, mobilizam
conhecimentos para enfrentar um conjunto de situações complexas. "Como
guia, um referencial de competências adotado em Genebra - 1996 para a formação
contínua", (lista das 10 competências):
1 - Organizar e dirigir situações de
aprendizagem;
2 - Administrar a progressão das aprendizagens;
3 - Conceber e fazer evoluir os dispositivos de
diferenciação;
4 - Envolver os alunos em suas aprendizagens e em
seu trabalho;
5 - Trabalhar em equipe;
6 - Participar da administração da escola;
7 - Informar e envolver os pais;
8 - Utilizar novas tecnologias;
9 - Enfrentar os deveres e dilemas éticos da
profissão;
10- Administrar sua própria formação contínua.
Com referência às 10 competências de Perrenoud, a
autora ressalta: "competências são as capacidades que se apoiam em
conhecimentos", é usado como sinônimo de outros termos como: capacidade,
conhecimento, saber. Apresenta também, quatro tipos diferentes de competências:
(1998:14-16): 1. competência intuitiva; 2 - competência intelectiva; 3 - competência prática; 4 - competência emocional. Completando este capítulo, é preciso trabalhar com a perspectiva coletiva presente nas noções de qualidade e competência que são ampliadas na construção coletiva.
(1998:14-16): 1. competência intuitiva; 2 - competência intelectiva; 3 - competência prática; 4 - competência emocional. Completando este capítulo, é preciso trabalhar com a perspectiva coletiva presente nas noções de qualidade e competência que são ampliadas na construção coletiva.
DIMENSÕES DE COMPETÊNCIA - Uma
definição de competência apresenta uma totalidade ,ou seja, uma pluralidade de
propriedades ( conjunto de qualidades de caráter positivo) mostrando suas
dimensões: Técnica, Política, Ética, Estética e a estreita relação entre elas.
A docência da melhor qualidade tem que se buscar,
continuamente, e se afirmar na explicitação desta qualidade no que se refere a:
o quê, por que, para que, para quem. Essa explicitação se dará em cada dimensão
da docência:
dimensão técnica - a capacidade
de lidar com os conteúdos, conceitos, comportamentos e atitudes, e a habilidade
de construí-los e reconstruí-los com os alunos;
dimensão estética - diz respeito
à presença da sensibilidade e sua orientação numa perspectiva criadora;
dimensão política - diz respeito
à participação na construção coletiva da sociedade e ao exercício de direitos e
deveres;
dimensão ética - diz respeito à
orientação da ação fundada no princípio do respeito e da solidariedade, na
direção da realização de um bem coletivo.
FELICIDADANIA - Apresenta a re-
significação da cidadania, como realização individual e coletiva.
Cidadania - Identifica-se com a
participação eficiente e criativa no contexto social.
Democracia - A participação
através do voto - "as decisões políticas". É necessário criar espaço
para que se possa construir conjuntamente as regras e estabelecer os caminhos.
Felicidade - Na articulação entre
cidadania e democracia retoma-se a articulação entre aética e política.
Alteridade e autonomia - É no
convívio que se estabelece a identidade de cada pessoa na sociedade.
A ação docente e a construção da
felicidadania :
1. Construir a felicidadania na ação docente - é
reconhecer o outro;
2. Construir a felicidadania na ação docente - é
tomar como referência o bem coletivo;
3. Construir a felicidadania na ação docente - é
envolver-se na elaboração e desenvolvimento de um projeto coletivo de trabalho;
4. Construir a felicidadania na ação docente - é
instalar na escola e na aula uma instância de comunicação criativa;
5. Construir a felicidadania na ação docente - é
criar espaço no cotidiano da relação pedagógica para a afetividade e a alegria;
6. Construir a felicidadania na ação docente - é
lutar pela criação e pelo aperfeiçoamento constante de condições viabilizadoras
do trabalho de boa qualidade.
CERTEZAS PROVISÓRIAS - Uma
reflexão sobre a formação e a prática docente.
Articular os conceitos de competência e de qualidade que visam à possibilidade de uma intervenção significativa no contexto social. A melhor qualidade se revela na escolha do melhor conteúdo, para poder reverter conceitos, comportamentos e atitudes. A melhor qualidade se revela na definição dos caminhos para se fazer a mediação entre o aluno e o conhecimento. O critério que orienta a escolha do melhor conteúdo é o que aponta para a possibilidade dos exercícios da cidadania e da inserção criativa na sociedade. A melhor metodologia é a que tem como referência as características do contexto em que se vive, no desejo de criar, superar limites e ampliar possibilidades. A melhor qualidade revela-se na sensibilidade do gesto docente na orientação de sua ação, para trazer o prazer e a alegria ao contexto de seu trabalho e da relação com os alunos. Alegria no melhor sentido, resultante do contato com o mundo e da ampliação do conhecimento sobre ele.
Articular os conceitos de competência e de qualidade que visam à possibilidade de uma intervenção significativa no contexto social. A melhor qualidade se revela na escolha do melhor conteúdo, para poder reverter conceitos, comportamentos e atitudes. A melhor qualidade se revela na definição dos caminhos para se fazer a mediação entre o aluno e o conhecimento. O critério que orienta a escolha do melhor conteúdo é o que aponta para a possibilidade dos exercícios da cidadania e da inserção criativa na sociedade. A melhor metodologia é a que tem como referência as características do contexto em que se vive, no desejo de criar, superar limites e ampliar possibilidades. A melhor qualidade revela-se na sensibilidade do gesto docente na orientação de sua ação, para trazer o prazer e a alegria ao contexto de seu trabalho e da relação com os alunos. Alegria no melhor sentido, resultante do contato com o mundo e da ampliação do conhecimento sobre ele.
O ensino da melhor qualidade é aquele que cria
condições para a formação de alguém que sabe ler, escrever e contar. Ler não
apenas as cartilhas, mas os sinais do mundo, a cultura de seu tempo. Escrever
não apenas nos cadernos, mas no contexto de que participa, deixando seus
sinais, seus símbolos. Contar não apenas números, mas sua história, espalhar
sua palavra, falar de si e dos outros. Contar e cantar nas expressões
artísticas, nas manifestações religiosas, nas múltiplas e diversificadas
investigações científicas.
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