segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O mal-estar da globalização




Adital
José Antonio Segatto é professor titular de Sociologia da UNESP
Criou-se um mercado mundial de produtos, capitais e mão de obra, não o cidadão do mundo.
Nos anos 80 do século 20 foi desencadeado um complexo e diversificado processo transformador que culminou com o ingresso do capitalismo numa nova fase, a globalização, expressa em mudanças como a reestruturação produtiva, a financeirização da economia, a revolução técnico-científica, as políticas socioeconômicas neoliberais, a internacionalização extensiva e impetuosa de todas as relações, a debilitação da soberania e da autonomia deliberativa dos Estados nacionais, etc.
O processo de globalização implicou alterações múltiplas e substanciais: 1) o movimento do capital ganhou velocidade excepcional e sua capacidade de reprodução foi potencializada; 2) o mercado financeiro foi tornado global e virtual e o fluxo de moedas e capitais alcançou agilidade exponencial; 3) a circulação de mercadorias e capitais, o deslocamento de pessoas e grupos, em todas as direções e regiões, criaram condições para a desterritorialização econômica e o desenraizamento cultural e identitário, desalinhando ou dissipando fronteiras, reais ou imaginárias; 4) as relações de trabalho, a sociabilidade e a representação, os meios de informação e comunicação viram-se drasticamente alterados e transtornados; 5) a redefinição das atribuições e soberania dos Estados nacionais levou à corrosão da autoridade e da jurisdição, à efemeridade das instituições e esferas de representação e deliberação, fragilizando a sociedade civil e política (Parlamento e Judiciário, partidos e sindicatos, etc.) – o alcance e o significado da democracia foram obstados ou mesmo constrangidos.
Nessas circunstâncias, houve o deslocamento abrangente da indústria e dos serviços para a periferia do capitalismo, transferindo-se empregos e capital, com diminutos custos tributários, poucas exigências de reposição ambiental e alta rentabilidade. No sentido inverso, os contínuos fluxos migratórios da Ásia, África e América Latina para a Europa e os Estados Unidos, permitiram a constituição de um exército de trabalhadores disponíveis, constituído de mão de obra barata. Concomitantemente, a introdução de novas tecnologias (informática, robótica, etc.) e métodos de gestão promoveu a reestruturação da produção e da circulação de mercadorias, eliminando, em larga escala, antigos postos de trabalho – a extinção de profissões tradicionais gerou uma população de trabalhadores excluídos por não se adequarem às exigências do mercado de trabalho, altamente competitivo. Podem-se juntar a esses fatos as sucessivas crises econômicas, como a de 2008, causada em grande medida pela financeirização da economia e pelas políticas de austeridade para combatê-la.
Em congruência com a globalização, desencadeou-se uma forte ofensiva contra o Estado de bem-estar social e a favor da desregulamentação das relações sociais e da supressão de quaisquer obstáculos à liberdade das mercadorias (inclusive a mão de obra) e à sua livre circulação. Movido pela lógica da economia política neoliberal, o processo de globalização, implementado nas últimas três ou quatro décadas, cobra agora seu preço. Mesmo nos países protagonistas na sua indução, parcela considerável da sociedade foi acometida por suas vicissitudes: crises econômicas, decréscimo da estatura e abrangência do Estado, subtração de direitos, aviltamento das condições de existência e aumento das desigualdades, contenção das políticas públicas, deslocamento de empregos e precarização das relações de trabalho, mercantilização brutal das relações sociais e humanas, esgarçamento de identidades coletivas, perturbação de sociabilidades, disseminação da insegurança e da instabilidade.
Ademais, se a globalização tem corroído e reordenado os poderes dos e nos Estados-nação, promovendo e intensificando o movimento de mercadorias e capitais, indivíduos e mão de obra em todos os países e continentes, não resolveu a contento o problema do exercício dos direitos de cidadania do adventício, que continuam sendo privilégio dos nacionais – ao mesmo tempo que criou um mercado mundial de produtos, capitais e mão de obra, não criou o cidadão do mundo.
Tomados em conjunto, esses fatores têm suscitado mal-estar e ressentimentos incomuns, particularmente nos países da Europa e nos Estados Unidos. Têm também despertado patriotismos, promovido o reavivamento de ideologias políticas e religiosas fundamentalistas e conservadoras, intolerantes e anti-humanistas, potencializando extremos: direita tradicionalista – Frente Nacional (França), Ukip (Inglaterra), Pegida e AfD (Alemanha), Liga do Norte (Itália), etc.; e esquerda negativa – Podemos (Espanha), Movimento Cinco Estrelas (Itália) e outras organizações.
Emblemáticos desse fenômeno são o plebiscito, recém-realizado, que determinou a saída da Grã-Bretanha da União Europeia (Brexit) e a ascensão do candidato à presidência dos Estados Unidos DonaldTrump. Não por acaso, as plataformas de ambos são quase análogas: defesa da soberania e resgate de valores e identidade nacional, fortalecimento das fronteiras contra a imigração, pregação do chauvinismo e da xenofobia, proteção da moeda, repatriamento de empresas, capitais e empregos perdidos, prerrogativa de direitos para os nativos. Trump promete que, com sua eleição, "o povo americano vai declarar novamente a independência dos Estados Unidos”.
Tais movimentos e organizações têm procurado reativar velhas concepções e práticas fundadas na recessão política e no déficit democrático, que, embora de triste memória, ainda vagam erráticas e continuam assombrando – com a barbárie e o apocalipse – os que prezam a liberdade e a igualdade, a fraternidade e a justiça. Isto posto, cremos que não é demasiado lembrar a advertência feita pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht numa de suas peças, no pós-guerra, ao se referir ao nazi-fascismo: "Ainda está fecundo e procriando o ventre de onde isso veio engatinhando”.

Nada mais ideológico do que uma 'escola sem partido'




Inesc
Adital

Artigo de Cleo Manhas, assessora política do Inesc.
O que seria a tão falada, e pouco explicada, ‘escola sem partido’? Basicamente, trata-se de uma falsa dicotomia, pois não diz respeito a não partidarização das escolas, mas sim à retirada do pensamento crítico, da problematização e da possibilidade de se democratizar a escola, esse espaço de partilhas e aprendizados ainda tão fechado, que precisa de abertura e diálogo.
A pauta que precisamos debater é a da qualidade da educação, e não falácias ideológicas sobre a "não ideologização da escola”, algo que se vê até mesmo em alguns diálogos sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
O Plano Nacional de Educação foi aprovado há dois anos e, durante sua tramitação, uma das polêmicas suscitadas foi acerca da promoção das equidades de gênero, raça/etnia, regional, orientação sexual, que acabou excluída do texto do projeto. Por consequência, isso influenciou a tramitação dos planos estaduais e municipais, que também sucumbiram ao lobby conservador e refutaram qualquer menção a gênero, por exemplo, difundindo a falsa tese da aberração intitulada "ideologia de gênero”. Isso causou uma confusão deliberada entre uma categoria teórica e uma pretensa ideologia.
Marivete Gesser, do Laboratório de Psicologia Escolar e Educacional da Universidade Federal de Santa Catarina, explica que "gênero pode ser caracterizado como uma construção discursiva sobre nascer com um corpo com genitália masculina ou feminina” e, por meio de normas sobre masculinidade e feminilidade, vamos nos construindo como sujeitos "generificados”. O preconceito vem dos discursos que naturalizam os lugares sociais de homens e mulheres como únicas representações, e segregam qualquer outra forma de manifestação. Além disso, em pesquisa realizada com por estudantes do ensino médio em Brasília, feita no âmbito do projeto Educação de Qualidade (Inesc/Unicef), constatamos que uma das razões do abandono escolar é a discriminação relativa ao público LGBTI. Razões mais do que suficientes para discutirmos gênero nas escolas.
Qual a ligação entre esses dois temas, ‘escola sem partido’ e ‘ideologia de gênero’, e momentos tão distintos? O que parece ter diferentes motivações e origens resulta dos mesmos elementos: os fundamentalismos conservadores que tentam passar às pessoas suas ideologias e crenças. Afinal de contas, não são apenas os pensamentos marxistas que são ideológicos, como tentam fazer crer os defensores da "escola sem partido”. Sendo assim, o que significa ideologia então?
Um dos conceitos mais difundidos é o de Karl Marx em parceria com Friedrich Engels, na obra a Ideologia Alemã, em que afirmam ser a ideologia uma consciência falsa da realidade, importante para que determinada classe social exerça poder sobre a outra, bem como a necessidade de a classe dominante fazer com que a realidade seja vista a partir de seu enfoque.
O conceito, no entanto, sofreu inúmeras interpretações, como a de Lênin para a ideologia socialista, como forma de definir o próprio marxismo. Portanto, há ideologia nas diferentes formas de ver e conceber o mundo. Não existe neutralidade. Quando defendem a ‘não ideologização’, em nome dessa pretensa neutralidade, também estão impregnados de ideologia. Os teóricos do projeto "escola sem partido” advogam a neutralidade e se dizem não partidários. No entanto, suas intenções são claras: a retroação dos avanços que tivemos nos últimos tempos, especialmente com relação aos direitos humanos. Por exemplo, quando dizem lutar contra a doutrinação, uma das situações apresentadas no site do movimento da ‘escola sem partido’ é um seminário realizado pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados sobre direitos LGBT e a política de educação. Eles citam esse caso como uma afronta ao artigo 12 da Convenção Americana sobre Direitos humanos, afirmando que pais e seus filhos têm que ter uma educação moral de acordo com suas convicções. É uma deturpação do citado artigo, que diz respeito à liberdade religiosa que deve ser respeitada individualmente. Além disso, manipulam e fazem confusão deliberada com a discussão realizada no seminário, que reafirmou a importância de se debater questões de gênero e de sexualidade nas escolas, para que as diferenças não sejam transformadas em desigualdades.
Em outro momento, dizem que os alunos (a quem chamam de ‘vítimas’) acabam sofrendo de Síndrome de Estocolmo, se ligando emocionalmente a seus algozes (‘professores doutrinadores’). Nesse caso, os estudantes se recusariam a admitir que estão sendo manipulados por seus professores e sairiam furiosos em suas defesas. Para exemplificar, citam momentos identificados como "monstro totalitário arreganha os dentes” e chamam os estudantes de soldadinhos da guarda vermelha.
Em um dos livros desse movimento, é passada a noção de que o professor não é um educador, separando assim o ato de ensinar (passar conteúdos) e educar. O/A professor(a) deveria estar ali apenas para passar conteúdo sem crítica, problematização ou contextualização, em um ato mecânico. Paulo Freire é demonizado como o grande doutrinador – justo ele, que construiu uma obra toda para combater doutrinações.
Esse movimento da ‘escola sem partido’ nasceu em 2004 e não gerou muitas preocupações, porque parecia muito absurdo e coisa pequena. No entanto, tem tomado corpo e crescido, na mesma toada de movimentos fascistas tais como ‘revoltados online’, responsável por apresentar recentemente a proposta da ‘escola sem partido’ ao ministro da Educação do governo ilegítimo. Aliás, é bom dizer que foi a primeira audiência concedida pela pasta da Educação nesta gestão ilegítima. E em vídeo, os criadores da ‘escola sem partido’ e do ‘revoltados online’ explicam que criaram tais coisas a partir de motivações pessoais. Ou seja, eles tentam impingir ao país projeto com base em impressões e vivências individuais.
A proposta foi apresentada em forma de projeto pela primeira vez no Estado do Rio de Janeiro, pelo deputado Flávio Bolsonaro. A segunda vez foi no Município do Rio de Janeiro, pelo vereador Carlos Bolsonaro – ambos filhos do deputado federal Jair Bolsonaro. E tal proposta já se espalhou por diversas câmaras municipais e assembleias legislativas. Em âmbito nacional, o deputado Izalci (PSDB/DF) apresentou o PL 867/2015 à Câmara Federal , que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Dentre várias questões, o artigo 3º do referido projeto diz o seguinte: "Art. 3º. São vedadas, em sala de aula, a prática de doutrinação política e ideológica bem como a veiculação de conteúdos ou a realização de atividades que possam estar em conflito com as convicções religiosas ou morais dos pais ou responsáveis pelos estudantes.” O que viola tais convicções provavelmente será julgado de acordo com o que e com quem quiserem criminalizar. O projeto ainda levanta uma polêmica do século XIX quando se discutia a dicotomia família e escola, o que deveria estar superado no século XXI.
Há vários projetos tramitando apensados a esse, ainda mais perversos. Um deles, do deputado Victório Galli, do PSC/MT, proíbe a distribuição de livros didáticos que falem de diversidade sexual. E há ainda o projeto de lei 1411/2015, do deputado Rogério Marinho PSDB/RN, cujo relator é o mesmo deputado Izalci. Esse projeto tipifica o crime de assédio ideológico, que, de acordo com o projeto, significa: "toda prática que condicione o aluno a adotar determinado posicionamento político, partidário, ideológico ou qualquer tipo de constrangimento causado por outrem ao aluno por adotar posicionamento diverso do seu, independente de quem seja o agente.” E diz ainda que o professor, orientador, coordenador que o praticar dentro do estabelecimento de ensino terá a pena acrescida de um terço. Ou seja, as opiniões fora da escola, tais como nas redes sociais, poderão penalizar o profissional da educação também.

O movimento criou recentemente uma ‘associação escola sem partido’ para ter uma entidade com a qual pudesse recorrer à Justiça em casos que julgasse relevantes. E a primeira ação por eles promovida foi contra o INEP, devido ao tema da redação do Enem de 2015, que tratava de violência contra as mulheres, tema que julgaram doutrinador e partidário. A violência contra as mulheres é reconhecida como grave problema em diversos tratados internacionais de direitos humanos, como a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), aprovada pela ONU em 1979 eoutros que a seguiram. No Brasil, a cada 4 minutos uma mulher dá entrada no SUS por ter sofrido violência física, e 13 mulheres são assassinadas a cada dia - uma a cada uma hora e 50 minutos. A violência está inclusive nas próprias escolas, como demonstrou a iniciativa "Meu professor abusador”.

Há vários ovos de serpente chocando no momento em diversos locais, sejam no âmbito dos legislativos municipais, estaduais, ou nacional, e mesmo nos Executivos, e não temos garantias que o Judiciário irá barrar tais aberrações. Portanto, nossa única arma é a manifestação, a nossa presença nas ruas e a disseminação de informações a um público maior possível, já que é na internet e em redes como whatsapp que esses grupos tem angariado seguidores, muitos deles muito jovens. É preciso promover debates que esclareçam essas situações que estão amadurecendo na surdina, com pessoas que não nos representam, mas estão em cadeiras que permitem tais movimentos.

Escola Sem Partido é ideia dos partidos de direita




Mailson Ramos
Adital

No país das excrescências, a Escola Sem Partido é mais uma delas. O PL 193/2016, de autoria do senador Magno Malta (PR-ES), inclui nas diretrizes básicas de educação o projeto que visa a neutralidade política, ideológica e religiosa do professor em sala de aula.
Decreta, em seu artigo 5º, parágrafo I, que "no exercício de suas funções, o professor: não se aproveitará da audiência cativa dos alunos, para promover os seus próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias”.
Ratifica, nos parágrafos III e IV que o professor "não fará propaganda político-partidária em sala de aula nem incitará seus alunos a participar de manifestações, atos públicos e passeatas” e "ao tratar de questões políticas, socioculturais e econômicas, apresentará aos alunos, de forma justa, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito”.
O mentor intelectual desta empreitada é o advogado Miguel Nagib, também diretor da ONG Escola Sem Partido. Miguel é articulista do Instituto Millenium reconhecido espaço de organização e difusão de ideias da direita brasileira, que reúne figuras como Rodrigo Constantino, Olavo de Carvalho, Luís Felipe Pondé e Reinaldo de Azevedo.
Em outras palavras, a Escola Sem Partido surgiria de ideais claramente direitistas e conservadores, atrelada a posições que se contrapõem à chamada "doutrinação ideológica” nas escolas brasileiras. Não nos espanta que, recentemente, em Curitiba, uma professora da rede pública de ensino tenha sido suspensa por abordar Marx em sala de aula.
Em agosto de 2015, o deputado federal Rogério Marinho (PSDB-RN), titular da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, propôs uma lei que torna crime o "assédio ideológico” em ambiente escolar.
O projeto de lei visava alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para que seja incluído entre os direitos da criança e do adolescente "adotar posicionamentos ideológicos de forma espontânea, livre de assédio de terceiros”.
Estas medidas que julgam suprimir na escola a partidarização e as ideologias políticas são cortinas de fumaça para uma partidarização de direita, onde viceje o conservadorismo de outrora; porque reprimir o professor em sala de aula é o primeiro passo para a desconstrução de uma sociedade que sabe debater, interagir, opor-se.
Projetos como estes são um desrespeito total à integridade profissional do professor, à sua liberdade de expressão, à capacidade que ele tem de também educar. Nos confins deste país, onde o(a) professor(a) conserva a respeitabilidade de um pai ou mãe, quem poderia impedi-lo(a) de educar os seus alunos?
E diante da perspectiva do desconhecimento político e ideológico dos pais sobre determinados assuntos da sociedade, poderiam acaso estes alunos permanecer ignorantes, uma vez que ao professor seria vedado o direito de expor a sua opinião? O que representaria este atraso senão uma falha educacional numa inteira geração? Num país de gente que mal compreende a política, qual seria o impacto de uma geração que teve os seus professores amordaçados e impedidos de falar sobre política?
Como aluno, este colunista não abdicaria de uma só orientação ideológica, desde que feita sob debate. Na escola e na academia não há espaço para a supressão de uma ideologia e ascensão de outra: deve haver espaço para debate, profundo e reflexivo. Quando se imprime uma ideia de alteração funcional das atribuições do professor, cerceando com isso o seu direito de se expressar, o resultado é sempre catastrófico.
Tão excelsa é a capacidade do professor que a sua dignidade se expande além das esferas de tempo e espaço. Professor é sempre professor, não importa a idade, a distância, a crença política. Escola Sem Partido só poderia vir mesmo da direita reacionária brasileira, metida a protofascista. Nihil sub sole novi (Nada novo sob o sol).

Mailson Ramos é relações públicas e colunista do site Nossa Política.

terça-feira, 19 de abril de 2016

A REPRODUÇÃO - resenha





RESENHA da obra A reprodução: Elementos para uma teoria do sistema de ensino Pierre BOURDIEU; Jean-Claude PASSERON, A reprodução: Elementos para uma teoria do sistema de ensino, (Tradução: Reynaldo Bairão e revisada por Pedro Benjamin Garcia e Ana Maria Baeta), Ed. Vozes 2ª edição 2009, 266 pp.

Bourdieu é filósofo e Passeron é sociólogo, e ambos lecionavam na École de Sociologie du Collège de France, instituição que o consagrou como um dos maiores intelectuais de seu tempo. Bourdieu e Passeron trabalhavam com as idéias de três pensadores que são considerados fundadores modernos da sociologia: E. Durkheim, Max Weber e Karl Marx. Os autores estão profundamente ligados à concepção do marxismo, capitalismo, luta de classes, entre outros. E Bourdieu discorre em sua obra “A Reprodução” alguns desses temas, principalmente o capitalismo e as classes sociais geradas pelo sistema. Existia na obra de E. Durkheim certa ambição em unificar os saberes das ciências humanas em torno da sociologia, e seguindo essa linha Bourdieu em suas obras faz uma síntese interativa entre o modelo de Durkheim e o estruturalismo, ao qual se conecta com a sociologia de Durkheim para desvendar o peso das estruturas sociais por trás das ações dos sujeitos, subentende-se aqui nessa extensão radical do modelo de Durkheim que os indivíduos estão submetidos ao controle das estruturas da sociedade. Para Bourdieu, a junção das teorias de Durkheim e do estruturalismo permite demonstrar como os indivíduos, em sua ação, apenas reproduzem os ditames determinados pela estrutura social vigente. Em 1970 Bourdieu e Passeron em parceria lançaram o livro “A REPRODUÇÃO”, ao qual defendem que toda ação pedagógica é, objetivamente, uma ação simbólica. Devem-se explicitar aqui os conceitos de violência simbólica, ao qual se define como imposição arbitraria que é apresentado àquele que sofre a violência de modo disfarçado e que oculta às relações de força que estão no topo da pirâmide do poder. Partindo-se desse principio a ação pedagógica, portanto é uma violência simbólica, pois é imposta por um poder arbitrário que eles chamam de arbítrio cultural. Bourdieu e Passeron viveram no século XX e iniciaram suas obras numa época de transição entre o período de guerras da primeira metade do século XX e o período das revoluções comportamentais e tecnológicas da segunda metade. Esta obra é composta de duas partes de acordo com a problemática elaborada pelos autores; I- Fundamentos de uma teoria da violência simbólica, e a segunda parte II- A manutenção da ordem.
Bourdieu e Passeron identificam e analisam profundamente a desigualdade na sociedade, não de forma genérica, mas nua e crua, e com todos os detalhes e motivos. Ele fala sobre ações e reações sociais de uma forma bem objetiva, sem rodeios. Na obra “A Reprodução” eles falam sobre a desigualdade de classes e a relacionam com a probabilidade de êxito em todos os campos da vida. Em suma, ele fala que o sistema elimina os fracos e não se preocupa mais em resgatá-los, não tem interesse algum em integra-los á sociedade, pois eles já passaram pelo que Bourdieu chama de estrutura de oportunidades. E ele insere a critica, falando que essa estrutura de oportunidades é extremamente desigual, e que a desigualdade existe, persiste e é legitimada quando os indivíduos passam a reproduzir a mesma, como num ciclo. Os autores trazem uma reflexão profunda sobre o sistema de ensino em vigor. Na época, eles escreveram sobre as universidades na França, mas lendo a obra você acredita e identifica situações que ainda ocorrem no nosso sistema atual, aqui no Brasil. Além da reflexão sobre a desigualdade do sistema de ensino, de conteúdos, de probabilidades de êxito escolar e profissional, os autores falam sobre ‘o exame’ no capítulo 3. E eles desenvolvem o tema, relacionando-o diretamente às estruturas de legitimação da desigualdade e descrevendo-o como uma ferramenta, um meio para que as desigualdades ocorram. Ele é ao mesmo tempo: a avaliação, a seleção, a probabilidade, o êxito e a exclusão do indivíduo.
A obra analisa e critica o modo de ver e pensar da escola francesa, e também define a mesma como “o espaço da reprodução social e um eficiente domínio de legitimação das desigualdades”. A escola é vista pelos autores como um local, uma instituição que reproduz a sociedade e seus valores e que efetiva e legaliza as desigualdades em todos os aspectos, pois é na escola que o legado econômico da família transforma-se em capital cultural.
Nos dois primeiros capítulos, os autores defendem a ideia de que a escola não é neutra, não é justa, não promove a igualdade de oportunidades, e também não transmite da mesma forma determinados conhecimentos, pois é a cultura da classe dominante, ideia essa oriunda da luta de classes do marxismo. A escola, ao tratar de maneira igual tanto em direitos quanto em deveres aqueles que são diferentes socialmente, acaba privilegiando os que por sua herança cultural já são privilegiados.
O terceiro capítulo da obra, chamado “eliminação e seleção”, descreve de forma crítica e analítica o exame na estrutura de ensino, sobretudo francês. É a partir deste pensamento que os autores começam a caracterizar o exame como um instrumento de seleção, classificação, e também a mostrar seu peso e valor no ambiente escolar. Para Bourdieu e Passeron, o exame estabelece uma definição social do conhecimento e da maneira de mostra-los, ou seja, padroniza respostas e reações relacionadas a determinados conteúdos e limita de certa forma, o conhecimento e as capacidades adquiridas e desenvolvidas ao longo dos anos. A escola utiliza o exame para selecionar os indivíduos tecnicamente mais competentes e os classifica desde os primeiros anos de vida escolar, colocando-os sob o status de nobreza escolar. Já aqueles originários de classes populares, muitas vezes são eliminados do sistema antes mesmo de serem examinados e avaliados, o que demonstra o quanto as desigualdades são poderosas e influentes no ingresso e êxito escolar do indivíduo.
Nesse ponto, os autores utilizam os termos “probabilidade de passagem e probabilidade de êxito”, para destacar o quanto as diferenças culturais podem agir na vida e no sucesso escolar de determinada pessoa. Aqueles que vieram ou passaram por uma estrutura social pobre em condições básicas de sobrevivência e informação de qualidade, tem chances menores de obter êxito escolar e ingressar no ensino superior. É uma visão cruel dos fatos tão bem discorrida pelos autores e presentes na realidade desigual do sistema de ensino brasileiro. Os que conseguem ultrapassar essa linha divisória rigorosa tendem a começar a reproduzir tudo aquilo que aprenderam no sistema social em que estavam inseridos e acabam, muitas vezes, recebendo o diploma sem ter desenvolvido as competências básicas exigidas pelo sistema escolar. O exame não pode ser reduzido a apenas um serviço ou uma prática escolar, pois ele determina a vida do sujeito em todos os aspectos, e sua extrema valorização é resultado do sistema de oportunidades em que a sociedade moderna está baseada. Uma falsa estrutura de igualdade social regida pela hierarquia dos êxitos escolares. Essa é uma critica sempre presente no decorrer dos capítulos da reprodução. Tal sistema de oportunidades é exposto pelos autores assim: “Eis porque a estrutura das oportunidades objetivas da ascensão pela Escola condiciona as disposições relativamente à Escola e à ascensão pela Escola, disposições que contribuem por sua vez de uma maneira determinante para definir as oportunidades de ter acesso à Escola, de aderir às suas normas e de nela ter êxito, e, por conseguinte as oportunidades de ascensão social”. (BOURDIEU E PASSERON, 1970 p. 190).
Como se percebe, os autores caracterizam a Escola e sua estrutura como uma oportunidade de ascensão social, ou um meio, um caminho para isso, e esse pensamento é decorrente da democratização do ensino e da elevação de diplomados com o tempo, que leva a escola a substituir progressivamente as desigualdades de acesso ao ensino pelas desigualdades de currículos para manter sua função social de reprodutora social. Com isso, pode-se observar que as escolhas de cursos e instituições de ensino passam a ser fortemente dependentes do poder e repletas de valores atribuídos socialmente graças ao capital e poder simbólico das instituições, agentes escolares e seus usuários. Neste âmbito, o que é valorizado não se restringe a apenas o quanto o indivíduo sabe ou estudou sobre determinado assunto, mas também onde e qual curso prestigiado pela sociedade cursou, efetivando mais uma vez as desigualdades, agora, de currículos. Desta maneira, a partir deste capítulo e da obra como um todo, Bourdieu e Passeron foram capazes, de demonstrar que as características sociais, culturais e políticas do sistema educacional francês, de fato, reproduziram as hierarquias existentes e as formas de dominação social, assim revelando o esvaziamento real das noções de igualdade propagadas por um sistema que seria democrático, e que a todos ofereceria tais oportunidades.
Por isso, o conceito de reprodução, na obra destes autores, é igualmente decisivo, pois permite compreender porque os indivíduos, envolvidos nos discursos e nas ideologias dominantes, contudo os autores acreditam que as chances existam para todos quando, de fato, as estruturas existentes e as práticas sociais que permeiam a estrutura social, ao contrário, apenas reproduzem a situação atual da sociedade, e o exame é um instrumento claro de perpetuação da contraposição entre igualdades e desigualdades no âmbito social.
O que podemos notar nessa obra é a sua atualidade, e sua contextualização com o sistema de ensino brasileiro, a sua ação pedagógica, a noção de classes vinda de Marx, sua objeção ao capitalismo consumista, sua realidade social e política tão bem exporta pelos autores, mostrando sem rodeios, à dura e cruel realidade da maioria dos sistemas de ensinos institucionais, com a realidade vivida pelas massas populares mais carentes. Lendo Bourdieu e Passeron percebe-se o quanto somos tratados como indigentes pelos poderes que regem a tão valorizada democracia, e o quanto temos que lutar contra essa agressão simbólica exercida pelas autoridades, e criar uma mente independente e criativa, ponderando com a realidade vivida e uma chance de crescimentos dentro de uma instituição acadêmica. Vamos á lutar pela igualdade, não essa que nos é apresentada como real, mas uma que ultrapasse os limites dessa dura realidade politica e social ao qual vivemos. Vamos colocar em pratica o que Marx pretendia: Uma revolução proletária, que poderá mudar o nosso rumo diante de perspectivas incertas e arbitrárias.

ELSON CASSIANO SOBRINHO Graduando de História 3º periodo



A Bíblia e Jesus!




1. Em Gênesis Jesus é: O nosso Criador (Gn 1) e A Semente da mulher. (3,15)
2. Em Êxodo Jesus é: O Cordeiro pascoal. (12,5-6)
3. Em Levítico Jesus é: O Sacrifício expiatório. (1,3-6)
4. Em Números Jesus é: A Rocha ferida. (20,11)
5. Em Deuteronômio Jesus é: O Grande Profeta de Deus. (18,15)
6. Em Josué Jesus é: O Príncipe do exército do Senhor. (5,14-15)
7. Em Juizes Jesus é: O Nosso Libertador. (2,16)
8. Em Rute Jesus é: O Nosso Parente. (2,1; 3:2)
9. Em I Samuel Jesus é: A nossa vitória. (17,47)
10. Em II Samuel Jesus é: O descendente de Davi. (7,11-13)
11. Em I Reis Jesus é: O doador da Sabedoria. (3,12; 4,29)
12. Em II Reis Jesus é: O Reis dos Reis. (11,9-21)
13. Em I Crônicas Jesus é: O Rei de Deus. (29,23-32)
14. Em II Crônicas Jesus é: O que faz aliança. (7,14)
15. Em Esdras Jesus é: O nosso auxilio, Senhor dos céus e da terra. (1,2)
16. Em Neemias Jesus é: O nosso ajudador (1,11)
17. Em Tobias Jesus é: O Caminho da verdade (1,2)
18. Em Judite
19. Em Ester Jesus é: O nosso Mardoqueu, sofredor. (3,5-6)
20. Em I Macabeus
21. Em II Macabeus
22. Em Jó Jesus é: O nosso Redentor vivo. (19,25)
23. Em Salmos Jesus é: O guarda de Israel. (121,4)
24. Em Provérbios Jesus é: A sabedoria de Deus. (8,12-35)
25. Em Eclesiastes Jesus é: O alvo verdadeiro. (12,1)
26. Em Cânticos Jesus é: O amado. (2,16)
27. Em Sabedoria
28. Em Eclesiástico Jesus é: A Raiz da sabedoria (1,6)
29. Em Isaías Jesus é: O profeta sofredor. (53,2-4)
30. Em Jeremias Jesus é: A nossa justiça. (33,16)
31. Em Lamentações Jesus é: O varão de Deus. (1,2; 3,1)
32. Em Baruc Jesus é: A Fonte da sabedoria (3,12)
33. Em Ezequiel Jesus é: O pregador mal recebido. (1,1 – 3,27)
34. Em Daniel Jesus é: O Rei Eterno. (2,24; 7,14)
35. Em Oséias Jesus é: O que liga as feridas. (14,4)
36. Em Joel Jesus é: O que habita em Sião. (3,17)
37. Em Amós Jesus é: O teu Deus ò Israel. (4,12)
38. Em Abdias Jesus é: O Senhor no seu Reino. (1,21)
39. Em Jonas Jesus é: O profeta ressuscitado. (1,17; 2,6)
40. Em Miquéias Jesus é: O nascido em Belém. (5,2)
41. Em Naum Jesus é: O que leva as boas novas. (1,15)
42. Em Habacuque Jesus é: O Senhor no Seu Santo Templo. (2,20)
43. Em Sofonias Jesus é: O Senhor que está no meio de ti. (3,17)
44. Em Ageu Jesus é: O Desejado de todas as Nações. (2,7)
45. Em Zacarias Jesus é: O Preço do Cordeiro. (11,12)
46. Em Malaquias Jesus é: O Sol da Justiça. (4,2)
47. Em Mateus Jesus é: O Rei Messias. (2,2)
48. Em Marcos Jesus é: O Servo de Deus. (1,11)
49. Em Lucas Jesus é: O Filho do homem. (19,10)
50. Em João Jesus é: O Filho de Deus. (19,7)
51. Em Atos Jesus é: O doador do Espírito Santo. (1,8)
52. Em Romanos Jesus é: Aquele que nos torna justo aos olhos da lei. (8,1-4)
53. Em I Coríntios Jesus é: As primícias dos que dormem. (15,20)
54. Em II Coríntios Jesus é: A graça de Deus. (12,9)
55. Em Gálatas Jesus é: O verdadeiro evangelho. (1,11-12)
56. Em Efésios Jesus é: Toda Armadura de Deus. (6,10-11)
57. Em Felipenses Jesus é: O que supre as necessidades. (4,13)
58. Em Colossenses Jesus é: O cabeça da Igreja. (1,18; 2,19)
59. Em I Tessalonicenses Jesus é: O vingador de todas as coisas. (4,6)
60. Em II Tessalonicenses Jesus é: O fiel protetor. (3,3)
61. Em I Timóteo Jesus é: O único mediador Entre Deus e os homens. (2,5)
62. Em II Timóteo Jesus é: O Senhor e Justo Juiz. (4,8)
63. Em Tito Jesus é: A graça Salvadora de Todos os homens. (2,11)
64. Em Filemon Jesus é: O Senhor que intercede por nós. (1,10)
65. Em Hebreus Jesus é: O Autor e consumador da fé. (12,2)
66. Em Tiago Jesus é: O dom perfeito vindo de Deus. (1:17)
67. Em I Pedro Jesus é: A pedra principal. (2,7)
68. Em II Pedro Jesus é: O Senhor e Salvador que nos concede a entrada no seu reino. (1,11)
69. Em I João Jesus é: Aquele que se manifestou para desfazer as obras do diabo. (3,8)
70. Em II João Jesus é: A fonte da verdadeira doutrina. (1,9)
71. Em III João Jesus é: O nome que garante a vitória. (1,7)
72. Em Judas Jesus é: O único Soberano e Senhor. (1,4)
73. Em Apocalipse Jesus é: O Rei dos Reis E Senhor dos Senhores Senhores. (19)

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