Na ciência, além de
gerar idéias e informações novas, também é fundamental que você seja capaz de
transmitir esse conhecimento aos seus pares, ou ao público leigo em algumas
situações. A principal maneira de fazer isso é através de artigos, livros e
apostilas, sejam científicos, de divulgação científica ou didáticos, dependendo
do caso. Porém, muitas vezes você precisa divulgar conhecimento de forma oral,
através de seminários, aulas, palestras e afins. Por isso, resolvi escrever este
artigo, a fim de ajudar meus alunos a se expressarem melhor oralmente. Este
guia está divido nos tópicos mais importantes para se fazer uma boa
apresentação. Ele serve apenas como um conjunto de dicas básicas, não
substituindo o treinamento com um bom orientador e
nem a leitura de livros especializados no assunto.
Por que apresentar
trabalhos também de forma oral?
Se a comunicação escrita é a mais
importante entre cientistas, qual é a utilidade de se comunicar também
oralmente? Bom, os textos servem como documentos, que oficializam as
informações e ajudam a diminuir sua deturpação ao longo do tempo. Afinal de
contas, todo conhecimento oral sofre o famoso “efeito telefone sem fio”
(deturpação na reprodução, conforme passa de pessoa a pessoa). Mas comunicar
idéias oralmente tem também suas vantagens, sendo um bom complemento à
comunicação escrita. Quando você está diante de uma platéia, tem a oportunidade
de interagir diretamente com ela. Além disso, as pessoas são animais sociais,
então informações transmitidas pessoalmente tendem a ter um valor adicional.
Esse contato direto em eventos científicos e cursos nos permite estabelecer
relações mais fortes com colegas e alunos, estreitando assim laços sociais na
comunidade acadêmica e ajudando a criar uma boa reputação.
Quais são as
diferenças básicas entre a comunicação escrita e a oral?
A principal diferença se deve ao fato
de o autor estar presente no momento da troca de informações. Sendo assim, em
uma palestra é possível que o público tire dúvidas imediatamente e que o autor
receba o feedback também em tempo real. Porém, na comunicação escrita
ambos os lados têm mais tempo de digerir as idéias, o que por outro lado é
vantajoso. Outra diferença fundamental é a “durabilidade da mensagem”. Na
comunicação escrita, você escreve suas idéias em um documento oficial (livro,
artigo, apostila), elas sobrevivem muito além do seu próprio tempo de vida e
sua forma original estará sempre disponível para consultas durante um tempo
indefinido. Isso não é possível na comunicação oral, a não ser que se grave a
palestra em video. Mas assistir ao video depois não tem o mesmo efeito de
assistir a uma palestra ao vivo. Em terceiro lugar, você deve lembrar que
quando alguém lê um texto, pode fazer pausas quando necessário (cansaço,
vontade de ir ao banheiro etc.) e retomá-lo posteriormente. Na apresentação
oral o público é seu refém.
O que devo levar em
conta ao planejar uma apresentação?
Tendo em mente as diferenças entre as
comunicações escrita e oral, pode-se pensar no planejamento de uma
apresentação. Você deve considerar os seguintes aspectos principais, comentados
em detalhes nas próximas seções.
Tenha uma boa
história para contar
Você deve ter todo
o capricho com a forma da sua palestra, pois ela é fundamental para passar sua
mensagem de forma eficiente. Contudo, não adianta fazer embrulho bonito para
presente ruim. Tenha sempre uma boa história para contar. Foque cada palestra
em uma única mensagem central clara, objetiva e interessante. Você pode até
incluir algumas poucas mensagens secundárias, mas uma boa palestra deve ter
um fio condutor claro com
uma moral da história ao final. Uma palestra, assim como um artigo, é um argumento.
Uma palestra confusa, que dá voltas e voltas sem chegar a lugar algum, ou que
trata “da vida, do universo e de tudo mais” invariavelmente se torna chata e
perde o público logo nos primeiros minutos.
Uma boa palestra
deve soar como uma conversa
Pense sobre todas as palestras que
você assistiu na vida. Provavelmente, só algumas poucas ficaram na sua memória.
Uma parte dessas te marcou por ser ótima, outra parte por ser péssima. Pense
bem sobre como eram as palestras nesses dois grupos. Você verá que as palestras
que te causaram uma ótima impressão foram dadas como conversas com o público,
em que, independente da velocidade ou energia do palestrante, parecia que ele
estava falando diretamente com todos e cada um na platéia. Dê a sua palestra
como se estivesse contando uma história para um grupo. Funcionará bem melhor do
que “falar” com um ponto distante no fundo da sala, ou pior, ler um texto no
palco como se fazia antigamente na Academia.
As pessoas não
conseguem se concentrar por muito tempo
É preciso respeitar a capacidade
máxima de atenção contínua das pessoas, que gira em torno de 40 min – 60 min,
no máximo, evitando assim falarmos por um tempo longo demais (hoje em dia, na
“era multitarefa”, esse tempo vem caindo progressivamente). A grande maioria
das apresentações científicas, especialmente em congressos, deve girar em torno
de 15 min, incluindo perguntas. Aulas e palestras maiores não devem ultrapassar
os 50 min. Especialmente se a apresentação acontecer em um congresso, onde a
platéia tem que assistir a várias pessoas em um mesmo dia e por isso deve estar
cansada e dispersa, você tem que buscar diferenciais que ajudem a entreter a
platéia e chamar sua atenção de forma positiva. Faça piadas inteligentes (mas
não em grande quantidade), use analogias divertidas, interaja com as pessoas
através de perguntas retóricas, se possível. Além disso, olhe de vez em quando
para uma pessoa específica, como se estivesse conversando com ela, e troque de
pessoa sempre. Isso dará um toque mais pessoal. Afinal de contas, quando
queremos perguntar a verdade sobre algo a uma pessoa, não pedimos que ela nos
olhe nos olhos?
Não se perca nos
detalhes
Detalhes são para textos escritos. Em
uma apresentação oral, concentre-se no que é essencial, ou seja, o contexto do
trabalho, os objetivos, o padrão geral dos resultados e principalmente suas
conclusões. Sempre reserve tempo para perguntas, nunca consuma todo o tempo
disponível apenas com a exposição. Afinal de contas, não tem sentido
desperdiçar a oportunidade de interagir em tempo real com a platéia.
Use pouco texto!
Slides, transparências ou lousas não
devem conter textos grandes demais, porque o foco principal da platéia deve ser
no que estamos falando. Escrevendo demais, você cria uma confusão extremamente
ruim entre ler e ouvir. Você precisa usar apenas tópicos ou palavras-chave.
Somos animais
visuais
Você deve considerar que somos
animais visuais. Portanto, tudo quanto possível deve ser explicado com imagens,
não palavras. Você precisa usar diagramas, fotos, desenhos, vídeos, animações e
afins. Fora isso, o material didático deve ser atraente, caprichado e objetivo,
de modo a prender a atenção da platéia Você tem que evitar qualquer material
mal preparado ou com estética ruim, como fotos desfocadas e mal enquadradas,
desenhos mal feitos e transparências velhas e amareladas.
Slides devem ter
bom contraste
Quando você usa slides ou
transparências, deve sempre buscar um bom contraste entre o conteúdo e o fundo.
Se a apresentação ocorrer em uma sala mais escura, o fundo deve ser mais claro,
e vice-versa, mas sem um contraste forte demais entre a luminosidade da sala e
do slide, o que cansa a vista. É fundamental examinar antes o local onde
falará, a fim de saber de antemão o que é necessário para aumentar a chance de
uma comunicação bem-sucedida.
Evite fontes
rebuscadas
Nos textos, você deve sempre evitar
fontes “serifadas”, ou seja, aquelas letras cheias de perninhas e enfeites,
como Brush Script. Deve usar fontes simples, como Arial. Fontes serifadas (sem
excessos) são melhores para a comunicação escrita em textos longos, como
artigos, pois relaxam a vista nesses casos.
Escolha o
equipamento de acordo com a situação
Antes de dar uma palestra ou aula,
procure saber o tipo de equipamento disponível: datashow, retroprojetor,
projetor de slides analógico, DVD, internet etc. Escolha o que lhe parecer mais
adequado e certifique-se da disponibilidade no dia. Se for usar um computador
com datashow, saiba que versão do Powerpoint, Keynote ou Impress estará
disponível.
O seguro morreu de
velho
Como sempre pode ocorrer
incompatibilidade entre programas de slides (e.g. Powerpoint x Keynote), ou
mesmo entre versões de um mesmo programa (e.g. Powerpoint 2003 x 2007), é
melhor se prevenir. Em congressos, onde você nunca sabe de antemão as condições
exatas de apresentação, prefira fazer uma apresentação sem vídeos, sons,
transições de slides ou efeitos especiais. E salve o arquivo como PDF, pois
quase todo computador tem o Adobe Acrobat Reader, que permite exibição em tela
cheia e passa slides da mesma forma que os programas de apresentações. Além
disso, PDFs quase não sofrem com problemas de compatibilidade, permitindo
visualizar seu arquivo até mesmo em computadores diferentes com sistemas
operacionais diferentes (e.g. Windows, MacOS ou Linux). Há várias formas de
salvar um arquivo PPT ou KEY como PDF, seja com as opções default do
sistema, ou através de add-ons e programas gratuitos.
Atenção ao
enquadramento
Uma coisa que quase todos se esquecem
de considerar, mas que leva muitos ao desastre, é o enquadramento dos slides. É
muito comum ocorrerem problemas de enquadramento, devido à diferenças de
resolução entre o computador e o datashow, ou mesmo devido a forças malignas
incontroláveis. Sendo assim, nunca use o espaço todo do slide. Deixe sempre
margens vazias em todos os lados, sem conteúdo, apenas com o fundo geral. Isso
evitará sérias dores de cabeça, como eixos de gráficos cortados. Se for usar os
velhos projetores de slides analógicos, certifique-se três vezes de que colocou
seus slides da maneira correta, para que eles não apareçam invertidos de alguma
forma ou engasguem o projetor.
Como saber se você
obteve sucesso?
A comunicação pode ser considerada
bem-sucedida, quando a maioria do público entende a mensagem que você quis
passar, mas é claro que é difícil avaliar isso sem ler a mente das pessoas.
Você pode estimar seu sucesso de maneiras indiretas, como quando sua palestra
provoca reações positivas no público (e.g. aplausos entusiasmados). Se as
pessoas fizerem perguntas, isso é um bom sinal. Se as perguntas não forem sobre
a sua mensagem em si, mas avançarem dentro do assunto discutido, isso é um
ótimo sinal, pois as pessoas te entenderam e se interessaram pelo assunto. Se,
além disso, algumas pessoas te procurarem no intervalo ou te escreverem depois
com mais perguntas aprofundadas, então seu sucesso foi realmente grande.
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