terça-feira, 18 de março de 2014

Teologia da Libertação e a experiência de encontrar Deus na face dos pobres

Adital
Durante o segundo dia do Congresso Continental de Teologia, que teve início na noite do último domingo, 07, logo pela manhã, o Dr. Jung Mo Sungda Faculdade de Humanidades e Direito da Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, abordou, durante sua Conferência, a Economia e Teologia, no anfiteatro Pe. Werner, na Unisinos.
Economia e Teologia – Teologia da Libertação em época de Império
"Primeiro”, começa o Dr. Jung Mo Sung, "é importante saber que Teologia da Libertação é teologia”. Segundo ele, Teologia da Libertação retrata o Deus da vida e a opção pelos pobres. Além disso, aborda:
• Noção de Deus e da vida humana;
• Vida da alma x vida corpórea;
• Reprodução da vida: a produção, distribuição e consumo de bens materiais e simbólicos necessários. Nesse sentido, gera-se conflito social;
• Teologia da Libertação critica teologicamente a economia.
Para o Dr. Jung Mo Sung, faz-se necessário "salvar a teologia do seu cinismo, porque realmente no mundo de hoje muita teologia reduz-se ao cinismo, que você não olha para os problemas que estão ao seu redor”. Segundo o conferencista, um conceito importante é o de divisão social do trabalho. "Qual o nível tecnológico dessa divisão social do trabalho?”, indaga.
Além disso, para Mo Sung, há outra coisa importante: "Quais os valores sociais que fazem com que a sociedade viva como um sistema?”. Para ele, é preciso justificar através da teologia a divisão desigual das mercadorias. "No século XVIII e XIX começa o mundo industrial. O tempo cíclico da natureza é substituído pelo relógio da produção. O tempo industrial está passando, agora estamos vivendo no mundo daglobalização e informação”, explica. Para ele, o sistema capitalista faz com que as pessoas consumam. "O consumismo, que começa nos anos 50, inicia com a necessidade de extravasar o processo de produção.”
Modernidade e a fé/teologia
A Igreja volta-se para o mundo e ao fazer isso enfrenta o mundo moderno, que foi compreendido como racional, secularizado e ateu, explica Mo Sung. Esse mundo moderno, segundo ele, apresenta-se como antropocêntrico. "O mundo moderno é antropocêntrico porque assim os filósofos da modernidade se apresentaram. A teologia é, neste sentido, um diálogo com a modernidade.” "Mas e se a modernidade for uma invenção? Há uma razão ou uma racionalidade irracional? Quando você destrói os povos, isso é racional? O progresso justifica isso?”
Mo Sung questiona se o mundo moderno é antropocentrismo ou capitalcentrismo, uma vez que acumular capital é o critério último da vida social. E pergunta: "Há um ateísmo ilustrado ou idolatria, uma vez que há sacrifícios da vida humana e do meio ambiente?”
Modernidade Ocidental
"Capitalismo e racismo são duas faces do mesmo processo histórico”, diz o Dr. Jung Mo Sung. Para ele, o capitalismo pode ser entendido como uma nova religião da vida cotidiana que, como qualquer outra, gera um novo tipo de espiritualidade. E continua: "As igrejas representam a sacralização do sistema dominante de cada época”, ao frisar que o Império não é apenas uma força. "Discurso da harmonia é discurso do imperial.”
Para ele, crítica da idolatria tem que ser a partir da noção de transcendência dos que foram excluídos, das vítimas e não de um Deus que vem de cima e impõe. "Esse espírito de comunhão e espiritualidade não podem fazer com que esqueçamos as perguntas do sistema capitalista.”
Crítica ao capital
"As crianças devem usufruir de sua infância e não a marca de sua boneca”, diz o Dr. Jung Mo Sung. Para ele, Shopping é o principal espaço sagrado de nosso tempo. É uma religião invisível. "Shoppingssão espaços de visibilidade do consumismo. Não acredito que estamos numa sociedade só. Nós podemos acreditar, mas o sistema não. Ele seleciona pela classe social, raça etc. Aí entra a Teologia cristã: Deus não faz distinção entre as pessoas.”
Depois, "a salvação de nossa vida é graça. Nossa vida não se justifica pelo sucesso, riqueza, status, quantidade de livros, quantas vezes fomos citados, mas sim pela graça de Deus”, analisa. Para ele, aTeologia da Libertação está em crise. "E só está em crise quem está vivo, quem já morreu não tem crise.” E completa: "Teologia é reflexão crítica. E muitas vezes temos preguiça intelectual. E quando nosso discurso é facilmente aceito, somos levados a preguiça intelectual e não esforço”.
Dr. Jung Mo Sung finaliza dizendo que a Teologia da Libertação fez história porque tinha uma coisa anterior: "reflexão crítica a partir da experiência espiritual de encontrar Deus na face dos pobres”.

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