A multidisciplinaridade é um conjunto de disciplinas a serem trabalhadas simultaneamente, sem
fazer aparecer as relações que possam existir entre elas, destinando-se a um
sistema de um só nível e de objetivos únicos, sem nenhuma cooperação. A
multidisciplinaridade corresponde à estrutura tradicional de currículo nas
escolas, o qual encontra-se fragmentado em várias disciplinas.
De acordo com o conceito de multidisciplinaridade,
recorre-se a informações de várias matérias para estudar um determinado
elemento, sem a preocupação de interligar as disciplinas entre si. Assim, cada
matéria contribui com informações próprias do seu campo de conhecimento, sem
considerar que existe uma integração entre elas. Essa forma de relacionamento
entre as disciplinas é considerada pouco eficaz para a transferência de
conhecimentos, já que impede uma relação entre os vários conhecimentos.
Segundo Piaget, a multidisciplinaridade ocorre quando "a
solução de um problema torna necessário obter informação de duas ou mais
ciências ou setores do conhecimento sem que as disciplinas envolvidas no
processo sejam elas mesmas modificadas ou enriquecidas". A
multidisciplinaridade foi considerada importante para acabar com um ensino
extremamente especializado, concentrado em uma única disciplina.
A origem da multidisciplinaridade encontra-se na
ideia de que o conhecimento pode ser dividido em partes (disciplinas),
resultado da visão cartesiana e
depois cientificista, na qual a disciplina é um tipo de saber específico e
possui um objeto determinado e reconhecido, bem como conhecimentos e saberes
relativos a esse objeto e métodos próprios. Constitui-se, então, a partir de
uma determinada subdivisão de um domínio específico do conhecimento. A
tentativa de estabelecer relações entre as disciplinas é que daria origem à chamada interdisciplinaridade.
A multidisciplinaridade difere da pluridisciplinaridade porque esta, apesar de também considerar um
sistema de disciplinas de um só nível, possui disciplinas justapostas situadas
geralmente no mesmo nível hierárquico e agrupadas de modo a fazer aparecer as
relações existentes entre elas.
Transdisciplinaridade,
Interdisciplinaridade e Multidisciplinaridade
Introdução
O papel da escola, mais precisamente do ensino e da educação, sempre foi
e sempre será questionado através dos tempos.Questionar-se-á não sobre a sua
necessidade e importância na vida dos indivíduos, uma vez que estes temas já
foram amplamente discutidos e esgotados por diversos grupos durante a história.
Questionar-se-á sempre se esta, a escola, tem servido ao seu papel sociológico,
propósito central, de "cunhar" indivíduos preparando-os para se
posicionarem como seres sociais integrados e adaptados à convivência em grupo,
à sociedade, agindo como participantes no desenvolvimento do todo. Ainda, não
somente como membros destes grupos capazes de se interrelacionarem com seus
entes, mas como membros qualitativos capazes de somar através de suas
habilidades e conhecimentos.
Ao pontuarmos a escola, e suas responsabilidades, como algo focado na
"formatação" de indivíduos para serem inseridos em grupos sociais
perceberemos, claramente, de que o desafio aqui proposto para a escola é,
indubitavelmente, complexo e dinâmico. Dinâmico pelo fato de se estruturar
sobre um conjunto de regras e padrões, os sociais, que se apresentam em
constante mudança, reflexo do próprio processo evolutivo social de cada era na
qual se viverá; Complexo pelo fato de exigir de si mesma a necessidade de
capacitar o indivíduo a observar a sociedade, seus problemas, relacionamentos e
saberes de uma forma dinâmica, interligada, completamente dependente de causas
e efeitos nas mais diversas áreas, do saber do conhecimento ao saber do
relacionamento, permitindo assim, e somente assim, que estes possam ser
formados com as habilidades necessários, acima descritas, para ocuparem sua
posição dentro desta sociedade.
Diante do entendimento da complexidade na qual estamos inseridos
percebe-se a necessidade da implantação de um raciocínio horizontalizado
complementar para o estabelecimento do saber. O estudo dos problemas através de
uma comunicação horizontalizada se faz necessário no intuito de maximizar o
"produto social final" esperado das escolas, e mais do que isso, para
a busca da democratização real do conhecimento através da libertação do
pensamento, da visão e do raciocínio crítico na formação do saber individual
seja ele de quem for.
Currículo e as disciplinas
O questionamento se inicia ao analisarmos a estrutura atual na qual
estão inseridas as escolas e centros de pensamento crítico-criativo, os centros
de ensino superior.Umas das primeiras barreiras encontradas para a implantação
de um pensamento horizontalizado na construção do conhecimento esta na
estrutura do currículo.
Saviani [Saviani, 2003] é categórico quando apresenta os posicionamentos
de autores como Apple e Weis sobre o currículo. Para estes o foco central na
estruturação do currículo esta na concretização do monopólio social sobre a
sociedade através do campo educacional. Apple prossegue afirmando que esta
ferramenta será estruturada através de regras não formalizadas que constituirão
o que ele mesmo denominou de "currículo oculto".
Berticelli (Berticelli, 2003) e Moreira e Silva(Moreira e Silva,
1995)não destoam de Saviani ao indicar que o currículoé um local de "jogos
de poder", de inclusões e exclusões, uma arena política.
Na busca da prática da horizontalização do pensamento e do estudo a
presença do currículo como selecionador de conhecimentos pré-definidos se
constitui como uma ferramenta castratória que limita o docente a mero
reprodutor de conhecimento. São verdadeiros instrumentos que tolem o processo
crítico-criativo necessário ao entendimento contextualizado e multifacetado das
problemáticas presentes na vida real.
A presença do currículo formal como ferramenta norteadora do processo de
ensino-aprendizado institui a fragmentação do conhecimento trazendo ao discente
uma visão completamente esfacelada do item analisado e desta forma
impossibilitando uma compreensão maior de mundo, de sociedade e de problemática
estudada.
Em busca de uma solução Silva (Silva, 1999) propõe o abandono do
currículo padrão, pré-definido utilizado atualmente, para a adoção do
"currículo da sala de aula". Este, construído no trabalho diário do
docente e do seu relacionamento com o meio na busca pela compreensão multifacetada
da realidade vivenciada do aluno. Seria a instituição da relação dialógica real
entre o professor e o aluno na construção do saber.
Na construção deste currículo informal, mas real, extraído das páginas
da realidade do aluno Fazenda indica a necessidade da dissolução das barreiras
entre as disciplinas buscando uma visão interdisciplinar do saber "que
respeite a verdade e a relatividade de cada disciplina, tendo-se em vista um
conhecer melhor" (Fazenda,1992)
Surge então a necessidade de reformular o modus operandiestabelecido
através da re-análise das atuais temáticas e conseqüentemente propondo uma
visão horizontalizada para a analise e pesquisa dos temas apresentados no
dia-a-dia do discente surgem a multidisciplinaridade, a interdisciplinaridade e
a transdisciplinaridade.
Multidisciplinaridade
A multidisciplinaridade é a visão menos compartilhada de todas as 3
visões. Para este, um elemento pode ser estudado por disciplinas diferentes ao
mesmo tempo, contudo, não ocorrerá uma sobreposição dos seus saberes no estudo
do elemento analisado. Segundo Almeida Filho (Almeida Filho, 1997) a idéia mais
correta para esta visão seria a da justaposição das disciplinas cada uma
cooperando dentro do seu saber para o estudo do elemento em questão. Nesta,
cada professor cooperará com o estudo dentro da sua própria ótica; um estudo
sob diversos ângulos, mas sem existir um rompimento entre as fronteiras das
disciplinas.
Como um processo inicial rumo à tentativa de um pensamento
horizontalizado entre as disciplinas, a multidisciplinaridade institui o inicio
do fim da especialização do conteúdo. Para Morin (Morin, 2000) a grande
dificuldade nesta linha de trabalho se encontra na difícil localização da
"via de interarticulação" entre as diferentes ciências.É importante
lembrar que cada uma delas possui uma linguagem própria e conceitos
particulares que precisam ser traduzidos entre as linguagens.
Interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade, segundo Saviani (Saviani, 2003) é indispensável
para a implantação de uma processo inteligente de construção do currículo de
sala de aula informal, realístico e integrado. Através da
interdisciplinaridade o conhecimento passa de algo setorizado para um
conhecimento integrado onde as disciplinas científicas interagem entre si.
Bochniak (Bochniak, 1992) afirma que a interdisciplinaridade é a forma
correta de se superar a fragmentação do saber instituída no currículo formal.
Através desta visão ocorrem interações recíprocas entre as disciplinas. Estas
geram a troca de dados, resultados, informações e métodos.Esta perspectiva
transcende a justaposição das disciplinas, é na verdade um "processo de
co-participação, reciprocidade, mutualidade, diálogo que caracterizam não
somente as disciplinas, mas todos os envolvidos no processo educativo"(idem).
Transdisciplinaridade
A transdisciplinaridade foi primeiramente proposta por Piaget em 1970
(PIAGET, 1970) há muitos anos, contudo, só recentemente é que esta proposta tem
sido analisada e pontualmente estudada para implementação como processo de
ensino/aprendizado.
Para a transdisciplinaridade as fronteiras das disciplinas são
praticamente inexistentes. Há uma sobreposição tal que é impossível identificar
onde um começa e onde ela termina.
"a transdisciplinaridade como uma forma de ser, saber e abordar,
atravessando as fronteiras epistemológicas de cada ciência, praticando o
diálogo dos saberes sem perder de vista a diversidade e a preservação da vida
no planeta, construindo um texto contextualizado e personalizado de leitura de
fenôminos". (Theofilo, 2000)
A importância deste novo método de analise das problemáticas sob a ótica
da transdisciplinaridade pode ser constatada através da recomendação instituída
pela UNESCO em sua conferência mundial para o ensino Superior (UNESCO, 1998).
Nicolescu (Nicolescu, 1996) formula a frase: "A
transdisciplinaridade diz respeito ao que se encontra entre as disciplinas,
através das disciplinas e para além de toda adisciplina". A esta ultima
colocação entende-se "zona do espiritual e/ou sagrado".
Conclusão
O indivíduo do terceiro milênio esta exposto a problemas cada vez mais
complexos. Estes podem estar ligados a própria complexidade do
inter-relacionamento dentro da sociedade humana ou através do grau de
especialização atingido pelo conhecimento científico da humanidade.
O fato é que o ser social deste novo milênio, caracterizado pela era da
informação, do avanço tecnológico diuturno, da capacidade de interconexão em
rede e de outras propriedades que caracterizam os paradigmas que constituem
essa nova era, precisa encontrar na escola, seu ente social para a formação, o
aparato técnico-científico-social capaz de o "cunhar" para a sua
participação social.
Diante de paradigmas tão dispares quanto os que são vivenciados hoje
pela humanidade, a necessidade de se repensar o processo de ensino-aprendizagem
atual se faz necessário. Continuar com o processo pedagógico-histórico
atualmente instituído nas escolas e centros de estudo acadêmico é somente
comparável com a geração de indivíduos, e conseqüentemente, de uma sociedade,
intelectualmente analfabeta e limitada.
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