quarta-feira, 17 de abril de 2013

Mulheres: vidas transformadas com a ajuda da Bíblia


Neli de Almeida, Astolfo Dutra/MG


Vítima de violência doméstica, espancada por seu marido alcoólatra, Neli de Almeida carregou por muito tempo a culpa "de se seu casamento não ter dado certo". O CEBI a ajudou em seu processo de libertação e de reconstrução da vida. Hoje vereadora em sua cidade, ela mesma descreve sua história.
Aí surge na lembrança um outro retalho, o do meu casamento. Quanto sonho, quantos planos! Ser mãe de muitos filhos, cuidar amorosamente de cada criança que nascesse. Treze anos se passaram e tudo foi diferente. Meu marido vítima do alcoolismo e eu vítima da violência doméstica. Filho/a ficou no sonho. Moradia também sonho, vivíamos de favor ou aluguel. Às vezes faltava tudo, dinheiro, diálogo, respeito, carinho.... Para mim não faltava trabalho e dor. Depois de treze anos o casamento chegou ao fim. Descasar, legalizar junto ao juiz, tudo foi muito difícil. Perdi as forças, decepcionei-me com as minhas escolhas. Este é o retalho que traz a marca da luta, do sofrimento, do silêncio, do vazio...
Nas idas e vindas ouvi falar do CEBI. Comecei sentir o doce sabor do estudo bíblico feito junto com a comunidade. Percebi também que a formação deve ser continuada e que o CEBI oferece estes espaços de estudo, convivência e partilha. As assembleias do CEBI foram para mim instrumentos de democracia, participação, e muita reflexão. Este é o retalho da formação, do estudo, da reflexão e da convivência.
Nilva Baraúna, Boa Vista/RR
Neta de ex-escravo pelo lado paterno, indígena pela origem materna, Nilva Baraúna é superintende regional do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) no estado de Roraima. Em seu trabalho profissional, é desafiada a viver a sua profecia.
Aos 50 anos de idade e 20 anos de CEBI, é que vim me dar conta de que assumir um trabalho como superintendente Regional do IBAMA, com toda a complexidade da Amazônia, é a melhor oportunidade de exercício do profetismo a mim conferido pelo batismo.
Sãoanos de luta pela humanização de pessoas embrutecidas pela ação repressora e pelo exercício abusivo do poder da polícia. São denúncias de crimes que não podem e não devem ficar impunes, perseguição, ameaças e a tristeza de ver nossa região sendo destruída. Diante disso tudo, nosso esforço vem produzindo frutos, como o respeito pelo trabalho por parte da sociedade, de instituições e outros parceiros. Em uma gestão que busco exercer com toda a justiça, é confortante o carinho das populações tradicionais.
Tudo isso devo ao CEBI, que, de gotinha em gotinha, tal como soro em doentes, foi me fortalecendo e me encorajando para a luta.
Elciclei Faria dos Santos, Manaus/AM
Oriunda do interior do Amazonas, Elciclei reside há muito tempo em Manaus. Atualmente, é lutadora no movimento feminista e faz parte do grupo Maria Sem Vergonha.
Conheci o CEBI em 1997, quando participei de uma Escola Bíblica. A leitura do CEBI me encantou pela ousadia de estudar/ler a Bíblia com os pés no chão da vida. Foi no CEBI que conheci o Movimento Feminista Maria Sem Vergonha, seguindo minha caminhada de estudos sobre questões de gênero e iniciando a minha libertação enquanto mulher.
Foi nas Escolas de Formação do CEBI que despertei para começar a participar de Movimentos Sociais e me preocupar com a exclusão social de mulheres indígenas, negras, negros e pobres.
Keila de Oliveira Antonio, Campo Grande/MS
Além de militar na Marcha Mundial de Mulheres, Keila atua junto ao Movimento de Direitos Humanos, bem como em sua comunidade cristã.
Em minha vida pessoal, além das boas amizades que fiz durante o encontro, o curso contribuiu na aquisição de novos conhecimentos sobre a organização da Bíblia e em particular sobre a história da mulher na Bíblia.
Com isso, consegui ter mais convicção da minha opção de vida cristã em meio à sociedade. Pois para mim, que sou feminista, é um desafio, em vários espaços, assumir que participo de uma comunidade cristã e que essa experiência me faz bem. Visto que, na realidade, a mulher continua sendo "oprimida" na comunidade, muitas vezes por conta de uma leitura equivocada e descontextualiza dos textos bíblicos feita por nossos companheiros. A minha atuação sócio-política ficou mais qualificada com a capacitação.
Sou feminista e faço parte da Marcha Mundial de Mulheres que, entre várias linhas de ação, trabalha a identidade das mulheres a partir de sua realidade. Tenho usado os conteúdos adquiridos, seja nos textos trabalhados na formação que faço junto às mulheres do movimento, seja na metodologia utilizada em minha militância.
Adelaide Maria Klein, Gravataí/RS
Liderança oriunda da periferia de Gravataí/RS, Adelaide foi Secretária de Administração do Município. Diz ter aprendido junto às comunidades eclesiais de base que "apesar do sofrimento, o Deus da vida está conosco e que os empobrecidos são os preferidos, são os escolhidos. É com estes que faz a aliança".
Descobri, através do CEBI e da Leitura Popular da Bíblia, que temos espaço para caminhar com Emanuel, o Deus conosco. E, nesta caminhada, assim como o povo de Deus, também faço o êxodo e me liberto quando luto pela libertação de outras mulheres.
O Curso de Capacitação para Mulheres, que realizei no CEBI, me ajudou muito nesse processo. Descobri que orar é importante, mas que é preciso ter um coração aberto, acolhedor, misericordioso para com os sofrimentos do povo e se colocar sempre a serviço. Um amor sem medida para com o próximo, a próxima... ouvir o clamor de mulheres doentes, encurvadas... Com este olhar novo, começo a buscar outras ferramentas além dos grupos de reflexão, de estudo e, automaticamente, me envolvo na política, nos movimentos sociais, nos conselhos municipais e na política partidária.
Assim, entro para a política para ajudar a transformar, para fazer o bem para a vida das pessoas, principalmente as que já não acreditam que alguém as ouça, as enxergue e com elas se preocupe. Hoje, cada vez, mais tenho a certeza de que estar no executivo ou no legislativo em qualquer das esferas é estar a serviço do povo, assim como os discípulos de Jesus estão a serviço do Reino. E, com certeza, percebo que é preciso ter muita fé em Deus.

Papa Francisco, promotor da consciência ecológica?


Leonardo Boff
Teólogo, filósofo e escritor
 

Foto: caritas.org


Cresce mais e mais a consciência de que entramos numa fase perigosa da vida na Terra. Nuvens escuras nos ocultam as estrelas-guias e nos advertem para eventuais tsunamis ecológicos-sociais de grande magnitude. Faltam-nos líderes com autoridade e com palavras e gestos convincentes que despertem a humanidade, especialmente, as elites dirigentes, para o destino comum da Terra e da Humanidade e para a responsabilidade coletiva e diferenciada de garanti-lo para todos.
É neste contexto que a figura do bispo de Roma, Francisco, poderá desempenhar um papel de grande relevância. Ele explicitamente se religa à figura de São Francisco de Assis. Primeiramente pela opção clara pelos pobres, contra a pobreza e pela justiça social, nascida inicialmente no seio da Igreja da libertação latino-americana em Medellín (1968) e Puebla (1979) e feita, segundo João Paulo II, patrimônio da Igreja Universal. Esta opção, bem o viram teólogos da libertação, inclui dentro de si o Grande Pobre que é nosso planeta superestressado pois a pisada ecológica da Terra foi já ultrapassada em mais de 30%. Isso nos remete a um segundo ponto: a questão ecológica, vale dizer, como devemos nos relacionar com a natureza e com a Mãe Terra? É neste particular que Francisco de Assis pode inspirar a Francisco de Roma. Há elementos em sua vida e prática que são atitudes-geradoras. Vejamos algumas.
Todos os biógrafos do tempo (Celano, São Boaventura, Legenda Perugina e outros) atestam "o terníssimo afeto que nutria para com todas as criaturas”; "dava-lhe o doce nome de irmãos e irmãs de quem adivinhava os segredos, como quem já gozava da liberdade e da glória dos filhos de Deus”. Recolhia dos caminhos as lemas para não serem pisadas; dava mel às abelhas no inverno para que não morressem de frio ou de escassez; pedia aos jardineiros que deixassem um cantinho livre, sem cultivá-lo, para que ai pudessem crescer todas as ervas, inclusive as daninhas, pois "elas também anunciam o formosíssimo Pai de todos os seres”.
Aqui notamos um outro modo-de-estar no mundo, diferente daquele da modernidade. Nesta o ser humano está sobre as coisas como quem as possui e domina. O modo-de-estar de Francisco é colocar-se junto com elas para conviver como irmãos e irmãs em casa. Ele intuiu misticamente o que hoje sabemos por um dado de ciência: todos somos portadores do mesmo código genético de base; por isso um laço de consanguinidade nos une, fazendo que nos respeitemos e amemos uns aos outros e jamais usemos de violência entre nós. São Francisco está mais próximo dos povos originários, como os Yanomami ou os andinos que se sentem parte da natureza do que dos filhos e filhas a modernidade técnico-científica para os quais a natureza, tida como selvagem, está ao nosso dispor para ser domesticada e explorada.
Toda modernidade se construiu quase que exclusivamente sobre a inteligência intelectual; ela nos trouxe incontáveis comodidades. Mas não nos fez mais integrados e felizes porque colocou em segundo plano ou até recalcou a inteligência emocional ou cordial e negou cidadania à inteligência espiritual. Hoje faz-se urgente amalgamar estas três expressões da inteligência se quisermos desentranhar aqueles valores e sentimentos que tem nelas o seu nicho: a reverência o respeito e a convivência pacífica com a natureza e a Terra. Esta diligência nos alinha com a lógica da própria natureza que se consorcia, inter-retro-conecta todos com todos e sustenta a sutil teia da vida.
Francisco viveu esta síntese entre ecologia interior e a ecologia exterior a ponto de São Boaventura chama-lo de "homo alterius saeculi” "um homem de um outro tipo de mundo”, diríamos hoje, de outro paradigma.
Esta postura será fundamental para o futuro de nossa civilização, da natureza e da vida na Terra. O Francisco de Roma dever-se-á fazer o portador dessa herança sagrada, legada por São Francisco de Assis. Ele poderá ajudar toda a humanidade a fazer a passagem deste tipo de mundo que nos pode destruir para um outro,vivido em antecipação por São Francisco, feito de irmandade cósmica, de ternura e de amor incondicional.
[Leonardo Boff é autor de A oração de São Francisco pela paz, Vozes 2009].
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O sonho de uma civilização realmente planetária
Por Leonardo Boff
Em parte, o desamparo atual que toma conta de grande parte da humanidade, se deriva de nossa incapacidade de sonhar e de projetar utopias. Não qualquer utopia. Mas aquelas necessárias que podem se transformar em topias, quer dizer, em algo que se realiza, mesmo imperfeitamente, nas condições de nossa história. Caso contrário, nosso futuro comum, da vida e da civilização correm graves riscos.
Temos, portanto, que tentar tudo, para não chegarmos tarde demais ao verdadeiro caminho, que nos poderá salvar. Esse caminho passa pelo cuidado, pela sustentabilidade, pela responsabilidade coletiva e por um sentido espiritual da vida.
Valho-me das palavras inspiradoras de Oscar Wilde, o conhecido escritor irlandês que disse acerca da utopia: "Uma mapa do mundo que não inclua a utopia não é digno sequer de ser espiado, pois ignora o único território em que a humanidade sempre atraca, partindo, em seguida, para uma terra ainda melhor...O progresso é a realização de utopias.”
Pertence ao campo da utopia projetar cenários esperançadores. Vamos apresentar um, de Robert Müller, que por 40 anos foi um alto funcionário da ONU, chamado também de "cidadão do mundo” e "pai da educação global”. Era um homem de sonhos, um deles realizado ao criar e ser o primeiro reitor da Universidade da Paz, criada em 1980 pela ONU em Costa Rica, único pais do mundo a não ter exército.
Ele se imaginou um novo relato do Gênesis bíblico: o surgimento de uma civilização realmente planetária na qual a espécie humana se assume como espécie junto com outras com a missão de garantir a sustentabilidade da Terra e cuidar dela bem como de todos os seres que nela existem. Eis o que ele chamou de "Novo Gênesis”:
"E Deus viu que todas as nações da Terra, negras e brancas, pobres e ricas, do Norte e do Sul, do Oriente e do Ocidente, de todos os credos, enviavam seus emissários a um grande edifício de cristal às margens do rio do Sol Nascente, na ilha de Manhattan, para juntos estudarem, juntos pensarem e juntos cuidarem do mundo e de todos os seus povos.
E Deus disse: "Isso é bom". E esse foi o primeiro dia da Nova Era da Terra.
E Deus viu que os soldados da paz separavam os combatentes de nações em guerra, que as diferenças eram resolvidas pela negociação e pela razão e não pelas armas, e que os líderes das nações encontravam-se, trocavam ideias e uniam seus corações, suas mentes, suas almas e suas forças para o benefício de toda a humanidade.
E Deus disse: "Isso é bom”. E esse foi o segundo dia do Planeta da Paz.
E Deus viu que os seres humanos amavam a totalidade da Criação, as estrelas e o Sol, o dia e a noite, o ar e os oceanos, a terra e as águas, os peixes e as aves, as flores e as plantas e todos os seus irmãos e irmãs humanos.
E Deus disse: "Isso é bom”. E esse foi o terceiro dia do Planeta da Felicidade.
E Deus viu que os seres humanos eliminavam a fome, a doença, a ignorância e o sofrimento em todo o globo, proporcionando a cada pessoa humana uma vida decente, consciente e feliz, reduzindo a avidez, a força e a riqueza de uns poucos.
E Deus disse: "Isto é bom”. E esse foi o quarto dia do Planeta da Justiça.
E Deus viu que os seres humanos viviam em harmonia com seu planeta e em paz com os outros, gerenciando seus recursos com sabedoria, evitando o desperdício, refreando os excessos, substituindo o ódio pelo amor, a avidez pela satisfação, a arrogância pela humildade, a divisão pela cooperação e a suspeita pela compreensão.
E Deus disse: "Isso é bom." E esse foi o quinto dia do Planeta de Ouro.
E Deus viu que as nações destruíam suas armas, suas bombas, seus mísseis, seus navios e aviões de guerra, desativando suas bases e desmobilizando seus exércitos, mantendo apenas policiais da paz para proteger os bons dos violentos e os sensatos dos insanos.
E Deus disse: "Isso é bom". E esse foi o sexto dia do Planeta da Razão.
E Deus viu que os seres humanos instauravam Deus e a pessoa humana como o Alfa e o Ômega de todas as coisas, reduzindo instituições, crenças, políticas, governos e todas as entidades humanas a simples servidores de Deus e dos povos. E Deus os viu adotar como lei suprema:"Amarás ao Deus do Universo com todo o teu coração, com toda tua alma, com toda atua mente e com todas as tuas forças; amarás teu belo e esplendoroso planeta e o tratarás com infinito cuidado; amarás teus irmãos e irmãs humanos como amas a ti mesmo. Não há mandamentos maiores que estes”.
E Deus disse: "Isso é bom. E esse foi o sétimo dia do Planeta de Deus".
Se na porta do inferno de Dante Alighieri estava escrito: "Abandonai toda a esperança, vós que entrais” na porta da nova civilização na era da Terra e do mundo planetizado estará escrito em todas as línguas que existem na face da Terra:
"Não abandoneis jamais a esperança, vós que entrais”.
O futuro passa por esta utopia. Seus albores já se anunciam.
[Leonardo Boff é autor de Opção-Terra: a salvação da Terra não cai do céu. Record RJ 2010].

Os dez mandamentos do casal

I – Nunca irritar-se ao mesmo tempo.
II – Nunca gritar com o outro.
III – Se alguém deve ganhar em uma discussão, deixar que seja o outro.
IV – Se inevitável repreender, fazê-lo com amor.
V – Nunca jogar no rosto do outro os erros do passado.
VI – A displicência com qualquer pessoa é tolerável, menos com o cônjuge.
VII – Nunca ir dormir sem ter chegado a um acordo.
VIII – Pelo menos uma vez ao dia, dizer ao outro uma palavra carinhosa.
IX – Cometendo um erro, saber admiti-lo e pedir desculpas.
X – Quando um não quer, dois não brigam.

CELEBRAÇÃO DA PALAVRA EM ANIVERSÁRIO



ACOLHIDA
Celebrante - Iniciemos esse momento em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!

Celebrante - Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco. Bendito seja Deus...

MOMENTO PENITENCIAL
Celebrante - Ó Deus, bendito sejais pela água que fecunda a terra e dá vida a toda vossa criação. Ela não apenas refaz as nossas forças, mas é sinal de que nos renovais interiormente em vossa aliança. Venha sobre nós o vosso Espírito, para que banhados em vosso sangue possamos ser criaturas novas, agora e para sempre. Amém!

- Senhor, tende piedade de nós. Senhor...
- Cristo, tende piedade de nós. Cristo...
- Senhor, tende piedade de nós. Senhor...

Celebrante - Deus de amor e misericórdia tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna. !

OREMOS
Celebrante - Ó Deus, nosso Pai, enviastes o vosso Filho ao mundo e infundistes em nós o Espírito Santo, revelando-nos o vosso mistério de amor. Concedei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a unidade onipotente. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!

LITURGIA DA PALAVRA
Leitura: Isaías 43,1-7
Evangelho: Mateus 7,24-29
Celebrante – O Senhor esteja convosco. Ele está no meio de nós!
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, narrado por Mateus. Glória a vós, Senhor!
Homilia

Elevemos a Deus nossos pedidos
Preces –
Celebrante – Acolhei ó Deus pai de bondade todos nos nossos pedidos, por Cristo nosso Senhor. Amém!

Celebrante – Guiados pelo Espírito do Ressuscitado e iluminados por seu divino ensinamento, façamos a oração que Jesus Cristo nos ensinou: Pai Nosso, que estais...

OREMOS
Celebrante - Ó Deus, alimentados e fortalecidos em nossa fé, nós vos agradecemos pela vossa presença em nossa vida e na caminhada de vossa Igreja. Dai a todos nós, batizados, força e coragem para continuarmos a missão que Jesus nos confiou. Por Cristo, nosso Senhor. Amém!

Celebrante – O Senhor esteja convosco. Ele está no meio de nós!
Abençoe-vos Deus Pai, Todo Poderoso. Em nome do Pai, Filho e do Espírito Santo. Amém!
Fiquemos todos na paz do Senhor! Graças a Deus!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Rosto das comunidades de Lucas


 - 
Frei Gilvander Moreira
As comunidades do Evangelho de Lucas e de Atos dos Apóstolos – obra lucana - apresentam um rosto diferente do rosto das comunidades da Judéia, da Samaria e da Galileia de cunho mais rural, comunidades dos Evangelhos de Marcos e Mateus. Eis, abaixo, seis características do rosto das Comunidades lucanas.
1.As comunidades de Lucas são predominantementecomunidades urbanas, melhor dizendo, das periferias das grandes cidades. No evangelho de Lucas, a palavra grega polis, que, em grego, significa cidade, aparece 40 vezes; em Mateus, 26; e em Marcos, 8. Nos evangelhos sinóticos (Mc, Mt e Lc), o ensinamento é realizado, basicamente, a partir de imagens da natureza, do campo e do trabalho rural (cf. ovelhas, pastores, videira, semente, semeador etc). No livro de Atos dos Apóstolos, essas imagens não aparecem. Isso dá a entender que são comunidades mais urbanas. De fato, no livro dos Atos dos Apóstolos, a palavra cidade aparece 42 vezes.
2.Comunidades de pobres com alguns ricos. Há um contraste que aparece, sobretudo, no evangelho de Lucas: de um lado, os pobres, famintos, perseguidos, aflitos (Lc 6,20-23) e, do outro, os ricos (Lc 12,16-21) que se banqueteiam sem se preocupar com a miséria dos outros (Lc 16,19-31). Para as comunidades lucanas era importante "não dar murro em ponta de faca”. No meio de uma correlação desigual de forças, melhor infiltrar-se do que confrontar-se com império gigante. Lucas é intransigente em face da opressão econômica e quanto à exigência ética do cristianismo, mas, para fazê-la prevalecer, não se nega ao diálogo cultural e político, a fim de canalizar para o bem a força histórica do mal. Lucas percebeu, muito antes de Paulo Freire, que a melhor forma de amar os opressores é tirar das mãos deles as armas da opressão.
3.Comunidades nas quais há cristãos que continuam ligados às instituições do Império Romano (Lc 7,1-10). Lucas não quer complicar ainda mais a situação dos cristãos que já estavam sendo perseguidos quando o Evangelho, primeira parte da sua obra, fora escrito. Ele demonstra simpatia pelos romanos ao dar a entender que a própria condenação de Jesus foi motivada pela ignorância romana(1). Por uma tática de sobrevivência, Lucas tenta passar a ideia de que as comunidades cristãs não são revolucionárias, subversivas. Assim, não cutuca a onça com vara curta, mas se prepara para cutucar com vara grande.
4.Comunidades que revelam um contexto patriarcal e machista. As mulheres, de uma forma geral, eram desprezadas e marginalizadas na sociedade. Mas no Evangelho de Lucas, Jesus dá prioridade às mulheres(2), valoriza sua presença e atuação nas comunidades e na sociedade. "Na narração do nascimento de João Batista e de Jesus (Lc 1,5–2,52) rompe-se o padrão que colocava o homem em primeiro plano e que deixava à margem tanto a mulher como a criança. Nessas narrativas, as crianças são apresentadas junto com a presença atuante de suas mães. Elas é que são protagonistas da novidade, anunciadoras das "grandes coisas que o Poderoso fez” (Lc 1,49)(3), mesmo vivendo em um contexto patriarcal e machista.
5.Comunidades com pessoas cansadas, medrosas, desanimadas e perdidas por causa da situação na qual viviam (Lc 24,13-24). Os cristãos são uma minoria perdida no meio de um imenso império, nas periferias das grandes cidades. Apenas alguns milhares no meio de um Império com cerca de 60 milhões de pessoas. Uns começam a abandonar as comunidades; outros duvidam que Jesus seja o Salvador, têm dificuldade de acreditar que seja possível viver em fraternidade e resistir ao império com suas seduções opressoras.
6.Comunidades com diversidade de dons os quais se articulavam por meio do cimento da solidariedade. Isso é ótimo, pois o Espírito não se deixa encurralar e não aceita ser engaiolado; sopra onde quer, como quer; é livre e liberta. Paulo reitera diversas vezes: "Não percam a liberdade cristã!” (2Cor 3,17); "Não entristeçam o Espírito Santo!” (Ef 4,30).
Oxalá esse simples texto ajude na compreensão do Evangelho de Lucas e, principalmente, nos inspire na construção de comunidades que, de fato, tenham um rosto parecido com o rosto das Primeiras comunidades cristãs.
Belo Horizonte, MG, Brasil, 07 de janeiro de 2013.
Notas:
(1)  Cf. Lc 23,34; At 3,17; 7,60; 13,27; 16,29-40; 18,12-17.
(2)  Cf. Lc 7,36-50; 8,1-3; 10,38-42; 13,10-17; 15,8-10.
(3)  VASCONCELLOS, P. L. A Boa Notícia segundo a comunidade de Lucas. São Leopoldo, CEBI, 1998. p. 37. (Coleção A Palavra na Vida 123/124)

Evangelho de Lucas: história, Jerusalém e salvação
Gilvander Luís Moreira

Analisando atentamente o terceiro evangelho da Bíblica e os Atos dos Apóstolos percebemos que há um plano global subjacente à obra lucana. Usando a linguagem de Conzelmann, que divide a história da libertação-salvação em três períodos, podemos dizer que o Primeiro Testamento narra o caminho de Israel, que é o tempo das promessas. O evangelho de Lucas narra o caminho de Jesus, que é o tempo da realização. Podemos deduzir isso pela ênfase que se dá ao "Hoje": "Hoje se cumpre...". E os Atos dos Apóstolos narra o caminho das Igrejas, que é o tempo do Espírito Santo.
Lucas elabora uma teologia da história que tem suas raízes no passado, chega ao auge em Jesus, continua nas Igrejas pela ação do Espírito Santo e consuma-se na parusia. A manifestação de Jesus não é algo que acontecerá no fim dos tempos, como se ele permanecesse ausente; é antes a manifestação gloriosa de um Jesus que sempre esteve presente nas comunidades, como aparece no evangelho de Mateus (Mt 28,20). Com a ascensão, "Jesus não foi embora", mas foi exaltado, glorificado, legitimado. Jesus "vai, mas não vai"; ausente no aspecto físico, continua presente por meio do Espírito Santo. O corpo das pessoas que aderem ao seu projeto passa a ser o "corpo de Cristo", movido pelo Espírito de Jesus. Para Lucas, Deus agiu na história da primeira comunidade cristã da mesma forma como agiu em Jesus. Este era enviado de Deus e os cristãos também o são. Por conseqüência, concluímos que todos somos convidados a "encarnar a realidade" de que também somos enviados de Deus para a libertação de todos e de tudo. Ignacio Ellacuría dizia que dom Oscar Romero foi (e continua sendo, mesmo depois da morte, como ressuscitado) um enviado de Deus para libertar o seu povo. Oscar Romero dizia aos cristãos perseguidos pela ditadura militar em El Salvador: "Vocês são Jesus Cristo, aqui e agora. Vocês são enviados de Deus para salvar e libertar o nosso povo".
A parusia começou na encarnação, vida e ressurreição de Jesus e será completada quando ele terminar de voltar e não quando começar a voltar.
Jerusalém em Lucas
O evangelho de Lucas é o único dos quatro evangelhos da Bíblia que começa e termina em Jerusalém, precisamente no templo. Imediatamente depois do prólogo geral à obra lucana (Lc 1,1-4), a primeira cena se desenvolve "no santuário do Senhor" (Lc 1,5-23). Depois da ressurreição, os onze voltam para o templo em Jerusalém (Lc 24,53). Os pais de Jesus o levam duas vezes ao templo (Lc 2,22.42). O episódio de Jesus aos doze anos conversando com os doutores no templo é prefiguração do ensinamento futuro de Jesus no templo (Lc 19,47).
Lucas apresenta as três tentações em uma ordem diferente do evangelho de Mateus. Este inicia apresentando a tentação da transformação de pedras em pão (primeira tentação), do jogar-se do pináculo do templo e ser salvo pelos anjos (segunda tentação) e a tentação de contemplar em uma alta montanha os reinos com todo o esplendor (terceira tentação) (Mt 4,1-11 e Lc 4,1-13). Para Mateus é importante colocar a última tentação no cume de uma montanha, pois o evangelho está sendo dirigido a comunidades oriundas principalmente do meio judaico, onde "montanha" é, por excelência, o local do encontro do ser humano com Deus e consigo mesmo. Assim, Mateus enfatiza Jesus, em profunda intimidade com o Pai, na montanha, superando as tentações.
No evangelho de Lucas, a primeira tentação se dá no deserto, onde Jesus é tentado a transformar pedra em pão. A segunda, acontece na montanha, em que contempla os reinos. A terceira, acontece no pináculo do templo, onde Jesus é tentado a saltar dali para ser salvo pelos anjos. Há uma progressão nas tentações. O clímax do confronto entre Satanás e Jesus aconteceu precisamente em Jerusalém, onde acontecerá a execução do Justo com a pena de morte, a pena capital. Assim, a cena na qual Jesus se encontra sobre o pináculo da "casa de seu Pai" se torna muito eloqüente, porque no evangelho de Lucas, "Jerusalém" é o ponto de chegada de Jesus para realizar a obra (Lc 17,11; Lc 19,28-38). Para as primeiras comunidades cristãs, "Jerusalém" é o ponto de partida para a missão (Lc 24,52). Jerusalém tem uma importância particular, pois é a cidade do "destino" final de Jesus e de onde se irradia a libertação-salvação para todo o gênero humano. Jesus caminha para Jerusalém como se buscasse alcançar uma meta (Lc 13,22). Lucas valoriza "Jerusalém" não somente como lugar físico, mas primordialmente como lugar teológico que representa a "cidade de Davi", o monte Sião, de onde Deus legisla. Lucas se refere a "Jerusalém" com o termo grego Ierousalëm, designação de Jerusalém não como lugar geográfico, mas de lugar sagrado do judaísmo.
Salvação em Lucas
A salvação acontece com base nas entranhas da história da humanidade. Deus, pela encarnação que culmina em Jesus de Nazaré, assume as entranhas humanas para salvar todos e tudo. Infelizmente já faz parte do senso comum que salvação se refere apenas à "alma". Perdeu-se a relação do corpo com a salvação. Diante disso é bom recordar que a palavra "salvação", no seu sentido original, quer dizer livrar o ser humano de algum mal físico, moral ou político, ou de algum cataclismo cósmico; isso supõe resgate da integridade. Com referência ao acontecimento Cristo, resgatar a integridade do ser humano significa restabelecer sua relação inata com Deus, com os outros, com toda a criação e consigo mesmo. Não podemos esquecer que o credo cristão afirma a convicção na ressurreição da "carne", não apenas da "alma".
Salvação é um dos efeitos mais importantes do acontecimento Cristo, pelo menos na mentalidade de Lucas, no evangelho e em Atos dos Apóstolos. Ele é o único dos evangelistas sinóticos a chamar Jesus de "Salvador". O melhor resumo que mostra o que é salvação é: "O filho do Homem veio buscar o que estava perdido e salvá-lo" (Lc 19,10).
Não podemos continuar pensando, segundo o senso comum, que salvação se refere somente a algo pós-morte e que não tem nada a ver com libertações na história. Na Bíblia, as categorias salvação e libertação são "equivalentes" e complementares, mesmo que alguns textos possam enfatizar mais a ideia de salvação, e outros, mais a ideia de libertação. Por exemplo, etimologicamente o nome Josué significa "o Senhor é libertação-salvação" (Nm 11,28); Josué é a versão hebraica do nome de Jesus. Este é versão aramaica. Logo, etimologicamente, Jesus é o novo Josué, aquele que liberta e salva, em um processo interdependente. Josué conduziu o povo na conquista da terra prometida. Jesus conduz o povo para a construção do Reino de Deus no mundo. Outro exemplo: o nome Oséias significa libertação-salvação (Nm 13,8).O profeta Oséias combateu com veemência a idolatria, libertando e salvando o povo.
Libertação-salvação faz parte do campo semântico dos verbos libertar, salvar, sarar, curar, resgatar, perdoar, reerguer, redimir, integrar, recuperar, incluir, apoiar e outros similares. Isso indica a inter-relação existente entre libertar e salvar: são duas faces da mesma medalha; inseparáveis como carne e unha. "Salvação" que não implica libertação real, concreta e corporal das pessoas é pseudo-salvação.
Lucas não quer, em momento algum, espiritualizar a proposta do Evangelho de Jesus Cristo, mas inseri-la nos processos orgânicos de libertação. A salvação que Lucas defende não é aparente, como diz o povo: "Peruca em cabeça de careca".
Belo Horizonte, MG, Brasil, 01 de abril de 2013.


Conzelmann sugere três períodos para a história da salvação:
O tempo de Israel compreende o Primeiro Testamento, da criação do mundo até João Batista, inclusive (Lc 1,5–3,1) – (tempo do Pai).
O tempo de Jesus compreende o Segundo Testamento, do início do ministério público de Jesus de Nazaré até a sua ascensão (Lc 3,2–24,51) – (tempo do Filho).
O tempo da(s) Igreja(s), sob a perseguição, vai da ascensão até a parusia (Lc 24,52-53; At 1,3–28,31) (tempo do Espírito Santo).

Três passagens em Lc fundamentam esta divisão:
Em Lc 16,16 aparece uma divisão em dois períodos: a lei e os profetas, até João. Daí em diante é anunciada a Boa-Nova do Reino de Deus, com a indicação do tempo de Jesus (cf. Lc 4,21).
Em Lc 22,35-37 Jesus adverte aos doze para a hora em que terão de procurar bolsas, alforjes, mantos e espadas. No “tempo de Jesus” não havia necessidade de todas essas provisões, mas no “tempo da(s) Igreja(s) perseguidas (ecclesia pressa) a situação é muito diferente, profundamente conflitiva: repreensão, opressão e repressão eram “pão de cada dia” experimentado pelas comunidades cristãs (At 8,1b.4; 11,19).
Em Lc 4,21 com o “hoje se cumpre...”.
  
Cf. Lc 1,16.54.68.80; 2,25.32.34; 4,25.27; 7,9; 22,30; 24,21.

Cf. Lc 2,11; 4,21; 5,26; 12,28; 13,32.33; 19,5.9.42; 22,34.61; 23,43.

Colocamos Igreja no plural também para recordar que nasceram, organizaram-se e cresceram diversas Igrejas — Jerusalém, Samaria, Antioquia, Roma, Corinto, Tessalônica, Filipos, Éfeso, de Pérgamo, Filadélfia, Gálatas, Colossos, de Tiatira, Esmirna, Sardes, Laodicéia etc. Logo, não podemos pensar em uma única Igreja cristã primitiva, mas em uma grande diversidade de Igrejas cristãs primitivas que formavam uma grande unidade com base na grande diversidade entre elas.
  
Cf. At 1,2.5.8.16; 2,4.17.18; 2,33.38; 4,8.25.31; 5,3.9.32; 6,6.5.10; 7,51.55; 8,15.17.18.19.29.39; 9,17.31; 10,19.38.44.45.47; 11,12.15.16.24.28; 13,2.4.9.52; 15,8.28; 16,6.7; 19,2.6; 20,23.28; 21,4.11; 28,25.
  
Davi é recordado como um dos três reis bons, principalmente pela sua primeira fase. Ele uniu e organizou marginalizados e excluídos da sociedade e implementou um governo popular e democrático. A expressão “cidade de Davi” quer recordar o Davi da primeira fase, não o Davi corrompido pelo poder, no final do seu reinado.
  
Em grego, sõtër, cf. Lc 2,11. Em Atos dos Apóstolos Lucas se refere a Jesus como Salvador mais duas vezes: At 5,31; 13,23.

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